quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
RECORDANDO UM MOMENTO MARAVILHOSO
Embora o passado esteja sempre presente, existem momentos que recordamos com uma saudade tão grande que até faz doer, tal a vontade que sentimos de a ele regressar.
Foi o que me sucedeu quando ouvia esta bela ária na excelente interpretação deste grande cantor.
Senti-me transportado à minha juventude em que existia um regime de opressão que tentava cercear as nossas ideias mas que, em contrapartida, existia uma sociedade bastante culta.
Os sonhos de Abril em que pensávamos que tudo iria ser muito melhor a partir dali, caíram por terra esmagados pela ambição de uns e a incompetência política de outros.
Hoje vivemos rodeados de dificuldades económicas com uma juventude que, concluídos os seus estudos, vive sem esperanças de futuro numa sociedade em que o desemprego aumenta dia a dia.
Mas estou a desviar-me do assunto desta conversa pois o que estava a tentar transmitir era a recordação que esta ária despertou em mim.
Na minha juventude, Lisboa tinha uma temporada de ópera, com alguns dos melhores cantores da época, que se realizava no Teatro de São Carlos. Porém, como essa se destinava a uma classe privilegiada e não acessível à maioria da população,todos os espectáculos tinham lugar, igualmente e com os mesmos cantores, no Coliseu dos Recreios.
Esta casa de espectáculos, frequentada pelos verdadeiros apreciadores sempre dispostos a aplaudir o que merecia mas verdadeiramente intolerantes à mais pequena falha assiduamente premiada com uma verdadeira pateada, era um verdadeiro santuário da música.
Tão exigente era e tal a fama que corria no mundo lírico que o tenor Beniamino Gigli quis que sua filha se estreasse no Coliseu porque dizia que se ela passasse ali passaria em qualquer sala do mundo.
A cantora Maria Callas aplaudida em delírio no São Carlos, actuou no Coliseu num ambiente extremamente frio muito mais amante de Renata Tebaldi do que da Callas.
Pois foi nesta sala que, numa noite inesquecível, se deu um momento que quem a ele assistiu jamais poderá esquecer.
Gino Bechi, um cantor bastante apreciado pela sala do Coliseu, interpretava o Barbeiro de Sevilha e, quando cantava a ária do Fígaro, cometeu uma pequena "fífia" o que originou a imediata reacção da plateia com a habitual pateada.
Bechi fez sinal ao maestro e voltou ao princípio cantando de novo toda a ária sendo, no final, bastante aplaudido pelos mesmos que o haiam pateado.
Perante este entusiasmo, Bechi bisou a ária sendo delirantemente aplaudido e, então, deu-se uma coisa a que raramente se deve ter podido assistir. GINO BECHI TRISOU A ÁRIA.
Que noite maravilhosa aquela que jamais quem a ela assistiu poderá esquecer
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