sexta-feira, 7 de agosto de 2009

OS 1 000 QUILÓMETROS DO ALGARVE



O último fim-de-semana, apesar de um pouco cansativo para a minha já adiantada idade, foi pleno de satisfação porque tive o prazer de estar com alguns bons amigos e assistir a um lote de boas corridas das quais se destacam os 1 000 Quilómetros do Algarve.

Na sexta-feira, ainda cedo, marchei-me, com o meu filho Nuno, directo ao Autódromo Internacional do Algarve empreendimento que, através do que tinha lido e das fotografias que tivera oportunidade de ver, considerava uma obra importante.

Contudo, confesso que esta ultrapassou toda a minha expectativa pela sua grandiosidade e pelas instalações em si que possibilitam a realização de qualquer prova internacional, incluindo a Fórmula 1. Trata-se de um empreendimento que ombreia com o que de melhor e mais moderno se tem construído.

Como eu gostaria de ter visto aquele recinto com uma lotação para 85 000 lugares completamente cheio. Porém, apesar de um paddock pleno de animação e com muito público, as bancadas, apesar de terem sido vendidos 25 000 bilhetes, quase pareciam vazias.

O conjunto de máquinas e pilotos de alto gabarito mundial que se juntaram neste fim-de-semana no Autódromo do Algarve justificava bem a enchente por mim idealizada mas que, infelizmente, o culto pelo desporto automóvel no nosso país não é suficientemente grande para tornar isso possível.

Ficou-me o receio, que espero seja infundado, quanto à sua futura viabilidade económica devido à falta de público e à insuficiência de eventos que o tornem rentável.

Tenho esperança de estar a ver o problema com pessimismo e que a direcção do autódromo tenha uma dinâmica que possibilite um número cada vez maior de provas de forma a influenciar uma participação cada vez mais elevada do público.

Mas voltando à nossa digressão, depois de uma directa de Évora ao Autódromo, debaixo do permanente controlo de velocidade do meu filho, dirigimo-nos à bilheteira para levantar os acessos e como já se ouvia o roncar dos motores limitámo-nos a comer umas belíssimas sandes de lombo e precipitámo-nos para a bancada sequiosos de ver carros.

Depois de assistir a alguns dos treinos e de uma prolongada visita pelas instalações e pelo paddock, pelas 19.00 horas seguimos para Olhão onde o nosso amigo Caldeira nos havia preparado um jantar de peixe e nos prometia uma surpresa.

Na esplanada do seu café aguardei com grande curiosidade a surpresa que me estava reservada e a quem o Caldeira, sem revelar a identidade, telefonava, de vez em quando, a saber em que ponto se encontrava.

Quando chegou, tive a grande alegria de conhecer o Villickx de quem, através de vários comentários aos meus “posts” me tinha cumulado de elogios e consideração. Sem nos conhecermos pessoalmente já o considerava um amigo que muito admirava pelos seus oportunos comentários e excelentes trabalhos sobre Gilles Villeneuve, Jacky Ickx e Ayrton Senna.

António Posser de Andrade (Villickx) abraçou-me e com o seu cavalheirismo disse-me, sorrindo: “E eu que esperava vir encontrar um velhote”.

Sensibilizado por conhecer finalmente alguém que muito admirava e já considerava como amigo, ainda mais comovido fiquei quando o António me obsequiou oferecendo-me um valioso volume “Ferrari” de ReinerW. Schlegelmilch, Hartmut Lehbrink e Jochen von Osterroth, obra profusamente ilustrada e com detalhes de todos os modelos saídos de Maranello.

Obrigado, António! Não sei como poderei corresponder a tantas provas de consideração e amizade.

Dali seguimos para uma tasca na lota de Olhão onde foi servido um fresquíssimo e inesquecível peixe a um grupo composto pela família Caldeira, constituida pelo Alexandre, Esposa e seu filho Daniel, pelo Posser de Andrade, pelo Gerard Azevedo e por mim e meu filho. Juntar-se-iam ainda a nós, o Victor e o Hugo Ribeiro que chegaram mais tarde por terem estado ocupados nas boxes da Quifel ASM Team realizando uma excelente cobertura do evento para o seu esplêndido “site” Le Mans Portugal.



Que extraordinário convívio em que se falou de automóveis e pudemos estreitar ainda mais as amizades já existentes, encontro que se ficou a dever ao habitual dinamismo do Alexandre e que foi mais um feliz momento que perdurará nas minhas recordações.

Apesar de nos termos deitado tarde pois já passavam das duas, na manhã seguinte, às nove horas já estávamos de partida para Portimão, passando por Faro para darmos uma boleia ao João (Tuga F1) que se metera no comboio do Porto para Faro, sem boleia nem bilhete para o Autódromo e que se revelou um excelente companheiro resistindo a todos os ataques humorados de Alexandre.

Chegados ao Autódromo, onde o Pedro Branco distribuiu os bilhetes a quem ainda os não tinha, lá nos instalámos nas bancadas entremeando as corridas com deslocações ao paddock onde tivemos possibilidade de encontrar outros amigos como o Nuno Lorvão, o Caldeira, o Miguel Lacerda e onde, de novo, tive o prazer de estar, durante alguns momentos, com o Posser de Andrade.

Tive pena de não ter visto o meu amigo Raul Esperto com quem o Caldeira ainda esteve.

O Caldeira e o Moreno não se calavam com a felicidade que o indiscreto vento da serra algarvia lhes havia proporcionado com um espectáculo maravilhoso em que entrava uma morena com uma saia de balão.

Não sei o que viram mas que estavam delirantes … estavam!

Durante o dia, só fizemos uma interrupção para nos deslocarmos a Mexilhoeira Grande onde o Pedro Branco havia encomendado um almoço na Petisqueira “A Oficina” que nos proporcionou uma refeição recheada de óptimos petiscos.

Só foi pena que a “rigorosa” dieta do Moreno e a sua secura exigisse forte medicação de cerveja, tratamento de que estavam também necessitados o Nuno Lorvão e o Alexandre o que originou que víssemos apenas as três últimas voltas do “Classic Endurance Racing”, prova em que estava muito interessado e onde a dupla Fernando Espírito Santo/Ricardo Bravo, em BMW M1, ganhou a classe GT.

Compensei esta falta, com uma visita ao paddock onde tive o prazer de ver a belíssima colecção de protótipos e GTs das pistas de competição construídos entre 1966 e 1979. Que maravilhosos carros!

Durante o sábado e domingo tivemos a satisfação de ver que, entre tantos pilotos de elevado gabarito, os portugueses não saíram inferiorizados e subiram várias vezes ao pódio.

No troféu espanhol “Supercopa SEAT Leon”, prova com mais de 30 carros e que decorreu com muitas ultrapassagens, piões e toques, David Saraiva subiu ao pódio ao classificar-se em 2º. lugar.

No Campeonato Europeu de Superstars, Filipe Albuquerque, que nunca havia feito uma corrida de turismo conseguiu, num Audi RS4 a que faltava velocidade de ponta na recta, ser segundo nas duas corridas, chegando a passar pelo comando da prova, só não tendo possibilidade de acompanhar o ritmo de Morbideli.

Uma referência ainda para as corridas “Fórmula Renault 3.5”, “Radical European Masters” e “Fórmula Le Mans” onde Jérôme d’Ambrosio, piloto da DAMS na GP2, que aproveitara para vir conhecer o circuito onde terminará a temporada, ganhou a última corrida.

Deixámos para o fim a prova rainha deste evento: os 1000 Quilómetros de Algarve.

Tivemos oportunidade de assistir à primeira corrida nocturna da “Le Mans Series”, a uma das mais animadas corridas deste campeonato e a uma prova em que nem uma única vez vimos aparecer o “famigerado” safety car o que para mim foi motivo de grande satisfação.

Sou do tempo em que os acidentes na pista eram resolvidos apenas com o uso das bandeiras e talvez possa ser considerado antiquado mas a verdade é que abomino esta invenção importada dos Estados Unidos que só serve para juntar novamente todos os carros, desvirtuando, muitas vezes, o resultado da corrida. Infelizmente também caiu em moda na Europa e, por tudo e por nada, o vemos aparecer nas pistas.

O seu não aparecimento nos 1 000 quilómetros é para mim um dos sinais positivos desta prova que, pelo êxito que teve, penso jamais deixará o calendário de provas deste Autódromo.

A prova foi ganha pela dupla Jean-Christophe Boullion/Christophe Tinseau em Pescarolo 01-Judd da Pescarolo Sport que, com esta vitória, ultrapassaram a tripla Enge/Charouz/Mucke da Aston Martin no comando do campeonato, mostrando toda a eficácia de Pescarolo dada a sua grande experiência em corridas de resistência.

Dos portugueses há a destacar a vitória da dupla Miguel Pais do Amaral/Olivier Pla na classe “LM”P2 passando para o comando do campeonato. O Ginetta Zytec é, presentemente, o P2 mais rápido o que lhe permitiu comandar a classe desde o início da prova.

Na última volta, a quebra da suspensão lançou o pânico na equipa, mas o avanço de duas voltas que tinha na altura e a perícia de Olivier Pla permitiu cortar a meta vitoriosamente.

A dupla Tiago Monteiro/Bruno Senna foi ao pódio ao classificar-se em 3º. lugar, apesar das várias saídas de pista que teve ao longo da prova.

Miguel Ramos, com problemas de pneus na hora inicial, não conseguiu mais que um 5º. lugar e César Campaniço num Ferrari 430 GT2 obteve o 20º.

O outro português, Francisco Cruz Martins abandonou por ter falhado a travagem para a primeira curva o que o fez chocar com o Porsche do seu colega de equipa Richard Lietz.

No domingo, depois de assistirmos à última corrida da “Fórmula Le Mans”, dirigimo-nos ao café do Autódromo na esperança de comer uma apetitosa salada que havíamos visto quando ali havíamos bebida café de manhã. Mas, só já deparámos com os poucos restos existentes e tivemos que nos contentar com umas sandes de frango que até estavam muito boas.

Nos três dias que estivemos no Autódromo assistimos a toda uma organização, na nossa opinião, impecável e apenas discordámos de dois aspectos que queremos mencionar numa atitude que consideramos positiva.
A primeira, foi a publicidade feita para este evento sob o tema “as feras da noite estão à solta no Algarve” e que consideramos muito pouca atractiva. À laia de brincadeira sou levado a dizer que aquilo metia medo ao susto.

A outra, considero-a francamente infeliz e só posso pensar que se deveu ao entendimento de uma funcionária das relações públicas e não teve origem na direcção do Autódromo.

Do programa oficial fazia parte um “pit walk” entre as 17.45 e as 18.20 de sábado, mas fomos informados que o acesso ao paddock não dava direito ao mesmo o qual se destinava apenas a convidados, mas que poderíamos beneficiar desta regalia se pagássemos um extra de 45 euros. Apesar de argumentarmos que este extra não constava da tabela de preços, responderam-nos que era uma forma de limitar o acesso às boxes. Quase nos parecia “conversa de ciganos” nada adequada a um evento daqueles e ridículo pela verba insignificante que se obteria.

Assim termina esta nossa jornada por terras algarvias.

O resto não tem história. Foi o nosso regresso a casa com o meu filho ainda mais “chato” com as recomendações sobre condução e limite de velocidade que me chegou a enervar, de tal forma que tive de parar na primeira zona de serviço para dar três fumaças numa cigarrilha a fim de acalmar os nervos. Mas também sei que o Nuno só é assim, tornando-se até aborrecido, pelo que gosta de mim e pelos cuidados que eu lhe mereço.

Foram três dias em que tive o prazer de assistir a provas de um desporto que me apaixona e de privar com amigos que muito estimo.

Mas não posso deixar de constatar, com uma certa tristeza, que, talvez devido à minha idade, ou à falta da minha mulher que sinto cada vez mais, ou a ambas as coisas juntas, tudo é muito diferente do antigamente. Estou com os amigos e assisto às corridas com grande prazer, mas já não existe em mim aquele entusiasmo arrebatador com que via passar os carros e no convívio já não sou o conversador que fui noutros tempos limitando-me muito mais a ouvir do que a falar.

E tenho pena que seja assim!

3 comentários:

  1. Amigo, Aramando: foi um enorme prazer reencontrá-lo e poder conviver, ainda que por breves momentos consigo, assim como com o seu filho e os restantes nossos amigos!
    Eu fiquei 'viciado' nesta coisa de assistir a corridas dentro das boxes - perde-se o que se passa em pista mas ganha-se na observação do verdadeiro trabalho de equipa, aquele quase-bailado onde todos os segundos contam e podem muito bem fazer a diferença. Sentir a alegria e confinaça da equipa no trabalho do piloto e vice-versa, ver um piloto que bem poderia estar na praia (na terça e quarta, em que nada ali tinha para fazer) a andar por ali, junto dos seus mecânicos, como se soubesse (e sabe!) o quão importante para eles é essa presença!
    Fantástico! Uma equipa fantástica, recheada de malta fantástica a fazer um trabalho fantástico mas tão injustamente (quase)ignorado! E que dizer da forma como nos acolheram? Não há palavras...
    Quanto ao seu último parágrafo: tudo na vida tem o seu momento e a sua época, sendo cada uma diferente da anterior e da seguinte - o importante é procurar disfrutar cada momento da melhor maneira possível.
    Um grande abraço!

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  2. Pois foi Armando!

    Fiquei com mta pena por não poder ter ido...

    :-/

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  3. Meu caro Armando,

    Só hoje vim aqui dar, por acaso.
    Mas então você anda por aqui a fazer os seus espectaculares escritos e não me avisa.

    Com relação ao que aqui em cima escreve sobre mim...como de costume é de uma simpatia extrema e devo-lhe dizer que o parazer em o conhecer pessoalmente foi todo meu.

    E que belo peixinho que o nosso Alexandre nos proporcionou.

    Foi com imenso prazer que conheci pessoalmente naquela noite o Vr, o Le Mans, o Faster e o Armando...todos verdadeiras bibliotecas ambulantes na paixão que nos une.

    Um grande abraço amigo do,
    António

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