quarta-feira, 2 de junho de 2010

RECORDANDO MARANELLO



Faz agora dois anos que fui a Florença visitar o meu neto Miguel Nuno que ali se encontrava a estudar, com base no programa “Erasmus”.
Aproveitei esta deslocação para realizar o velho sonho de qualquer “ferrarista”: visitar Maranello.
É recordando este belo momento que aqui transcrevo o que, na altura, escrevi no fórum do AutoSport.

PEQUENA CRONIQUETA DE UMA VISITA A MARANELLO

Pequena "estória" de uma visita a Maranello, o paraíso vermelho dos ferraristas, como muito bem a designou o nosso colega de fórum "Cavallino".

Visitar Maranello, estar onde o sonho se tornou realidade, é certamente o grande desejo de qualquer ferrarista. Não podia deixar de ser, também, o meu que sempre pensei concretizar um dia.

Quando há anos passei vinte e tal dias em Itália, encontrava-me em grupo e todo o tempo foi pouco para visitar museus e igrejas. Por mais vontade que tivesse não consegui libertar-me para ir em peregrinação até Maranello.

Teria de ser agora que não poderia perder a oportunidade e, aproveitando uma visita ao meu neto a Florença, tornar este velho sonho realidade.

E, assim, embora tivesse chegado tarde a Florença e estado na conversa com o meu neto até depois das duas horas da madrugada, não guardei para mais tarde e, no dia seguinte, pelas sete e meia da manhã já estávamos os dois a caminho de Modena.

Tinha de ser mesmo nesse dia, não fosse o diabo tece-las e lá se perdia mais esta oportunidade.

Mal chegámos a Modena, apanhei um grande susto. A bilheteira dos autocarros, à saída da estação, informou-nos sem mais quaisquer explicações que, naquele dia, não havia transportes para Maranello.

Não satisfeitos com a informação e antes de decidirmos apanhar um táxi, o que faríamos em último recurso, resolvemos ir à central dos autocarros.

Chegados ali, pedimos dois bilhetes para o primeiro autocarro a sair, mas como resposta obtivemos um "lo sciopero" termo que nem eu, nem o meu neto conhecíamos apesar dele falar razoavelmente o italiano.

Mas a empregada, uma italiana linda irradiando simpatia (a antítese da que encontrámos à saída da estação que era gorda e antipática) lá nos explicou que o pessoal estava em greve, mas que essa terminaria às doze e trinta e que, além disso, havia a possibilidade de poder aparecer algum autocarro antes do termo da greve devido à não adesão de algum condutor que foi o que, de facto, veio a acontecer.

Um pouco antes das onze apareceu o que deveria fazer a carreira daquela hora e, assim, lá seguimos a caminho de Maranello por uma zona linda onde imperava o verde devido à grande abundância de árvores e arbustos.

Mesmo à porta da fábrica, o autocarro parou e o motorista com um grito de boa disposição anunciou: a Ferrari!

Entretanto, a nós tinha-se juntado um jovem brasileiro, grande fã de Massa, que afirmava que este iria ganhar a corrida na Turquia. E não é que ... acertou mesmo!

Saí e, com o entusiasmo, nem sequer me ocorreu, como aliás sabia e é natural, que não podia visitar a fábrica. Entrei e dirigi-me à recepção onde uma simpática jovem italiana me explicou da impossibilidade de visitar a fábrica e nos acompanhou à rua para nos indicar a direcção da galeria.

Maranello vive da e para a Ferrari; tudo ali gira em redor do "cavallino" que impera como rei e senhor.

É indescritível tudo o que sentimos e como nos enche de felicidade só o facto de ali estarmos.

Face ao que sentia, disse ao meu neto que para um ferrarista visitar Maranello era o mesmo que para os católicos visitar Roma ou para os muçulmanos irem a Meca.

O meu neto dizia-me, mais tarde, que não devia brincar com as religiões mas, na verdade, eu não lhe dissera aquilo com qualquer espírito ofensivo ou falta de respeito pelos crentes, mas apenas como uma opinião pessoal de que os sentimentos dos ferraristas, católicos e muçulmanos devem ser idênticos de acordo com os lugares visitados.

Para os ferraristas, Maranello é o paraíso vermelho como muito bem o definiu o nosso colega de fórum "Cavallino".

Antes de chegarmos à galeria, ainda parámos numa loja da marca e, ao atravessarmos o parque de estacionamento deparámos com muitos ferraris.

A galeria é um edifício de três andares, demasiado pequeno para albergar tão grande espólio como são todas as recordações de já tão longa e gloriosa história, o que obriga a uma rotatividade do recheio do museu, ao mesmo tempo que realizam, periodicamente, várias exposições temáticas.

Quando da nossa visita, a exposição temática era "La Ferrari e l'Arte" dedicada a Franco Fontana, famoso fotógrafo italiano nascido em Modena.

Constatando os inconvenientes das reduzidas instalações existentes, está sendo construída uma outra já de maiores dimensões que irá permitir uma mais significativa exposição.

À entrada temos uma loja de venda de recordações e um pequeno snack-bar.

Antes de entrar propriamente na exposição, existe um simulador que permite, por cinco euros, experimentar a nossa perícia para pilotar um Ferrari F1.

Estive tentado a fazer a experiência, mas desisti por dois motivos: o possível vexame que poderia dar perante o meu neto que me tem na conta de bom piloto e o não me sentir com capacidade para conduzir um Ferrari F1, mesmo que esse não passe de um simulador.

Lembrei-me dos tempos em que não bastava ter dinheiro para se possuir um Ferrari e era necessário a realização de um teste para merecer a concordância do Comendador que, muitas vezes, os "chumbava". Que o digam, entre outros, a escritora Françoise Sagan e o fabricante de tractores Lamborghini.

Depois foi a visita a toda a Galeria, sentindo uma emoção enorme perante cada recordação com que deparava e lembrando, a cada passo, momentos de grande alegria, de alguma frustração e de enorme tristeza como aquele que passámos junto do carro 27 que tanto nos fez vibrar e chegar ao rubro nas mãos do inesquecível e sempre saudoso Gilles Villeneuve.

E com que alegria olhamos para aquele número um que em 2004, pilotado por Michael Schumacher, ganhou quinze provas do campeonato.

E os carros de Gherard Berger e Alesi que atravessaram épocas menos boas mas que mantiveram sempre em nós o entusiasmo e a esperança de que um dia voltaríamos às tardes de glória.

Tudo, tudo ali são recordações que nos emocionam e, ao mesmo tempo, nos enchem de alegria.

É todo um grupo de grandes e extraordinários pilotos, nomes famosos do automobilismo que, ao longo dos anos mantiveram sempre viva a chama desta marca.

Ali pudemos ver um simulacro de box, vários troféus originais e uma caixa acrílica (como eu a adorava ter) com todos os carros F1 construidos pela fábrica.
E, por último, a recordação do grande Homem que sonhou e soube tornar o sonho realidade e que lutou com todas as suas forças para que essa realidade nunca perdesse a sua independência.
O Homem que criou esta lenda viva que a todos nos orgulha.
A réplica do seu escritório e o grande painel com as suas fotografias.

Este, junto do painel do grande criador, e aquele em que estive junto do carro de Gilles Villeneuve, foram os momentos mais sentidos desta visita.

Quando saímos da Galeria, depois de comprarmos algumas recordações, era hora de almoço e o meu neto queixando-se de estar cheio de fome dizia querer comer um bife à Schumacher.

Da fábrica saíam os empregados com os seus fatos de macaco ou com as suas batas, o que mereceu do meu neto um comentário bem verdadeiro: “Deve ser das poucas empresas em que os trabalhadores saem envergando, com um orgulho enorme, os seus fatos de trabalho”.

Entrámos no Bar Cavallino, situado ao lado da fábrica, mas só havia comida de padaria e o neto estava cheio de fome.

A seguir ao bar, há o Cavallino, restaurante onde, já tenho lido, é difícil conseguir um lugar sem reserva antecipada.

Apesar de tudo, entrámos e deparámos com a sala completamente cheia. O empregado, a quem nos dirigimos, disse-nos não servirem mais refeições porque o restaurante estava reservado para um grupo.

Mas o meu neto não desistiu e, não satisfeito com informação, dirigindo-se a uma senhora, que devia ser a gerente, usou de toda a sua diplomacia (ou não estivesse ele a tirar relações internacionais) e com o charme que exerce junto das damas argumentou com a grande admiração que o avô tinha pela Ferrari e de como gostaria de poder almoçar ali o que, se não o conseguisse, muito o desgostaria.

Não há dúvida que o argumento resultou e a senhora conduziu-nos à sala ao lado, onde já estavam duas pessoas, certamente num almoço de negócios, e ali pudemos tomar a nossa refeição num ambiente onde tudo nos falava da Ferrari.

Quando acabámos e pagávamos a despesa, o grupo já tinha saído, a sala estava vazia mas continuavam a dizer às pessoas que entravam que já não serviam refeições.

O meu neto tinha sido de facto convincente na sua argumentação de falar ao sentimento da senhora.

Saímos, demos mais uma volta e regressámos a Florença.

O meu sonho tinha-se concretizado e sentia uma felicidade tão grande que, por mais esforços que faça, não consigo transmitir nesta pequena croniqueta.

Apenas um sentimento enorme de grande gratidão por tudo aquilo que Enzo Ferrari, com toda a sua persistência e grande vontade, nos soube deixar.

Tanto nas vitórias como nas derrotas, nos grandes momentos como nos longos períodos menos bons, a Ferrari tem sempre milhões de fervorosos adeptos a torcer por ela e sempre fiéis ao "cavallino rampante".

OBRIGADO ENZO POR TUDO AQUILO QUE NOS DEIXOU!

2 comentários:

  1. Tambem hei-de de lá ir.

    Abraço Amigo Armando

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  2. Eu também ... mais uma vez, obrigado por este belo texto. Abraço. Ac (mits650)

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