sábado, 7 de agosto de 2010
O SONHO E A OBRA - 1952 - O PRIMEIRO MUNDIAL
Mil novecentos e cinquenta e um tinha terminado com bons resultados no plano desportivo e a Casa Ferrari olhava com muita confiança para mil novecentos e cinquenta e dois que prometia ser bom, mesmo no plano comercial com um constante crescimento das vendas originado pelos sucessos nas corridas.
A mudança de regulamento e a adopção da Fórmula 2 para as competições pontuáveis para o campeonato do mundo de pilotos era favorável aos monolugares que já tinham sido apresentados em duas corridas da época transacta confirmando que a opção tomada estava certa.
A direcção técnica estava nas mãos de Aurélio Lampredi e para a direcção da equipa tinha sido chamado Nello Ugolini que substituiu Federico Giberti deslocado, já em fins de 1951, para um sector chave para a empresa que era a expansão das vendas.
Antes do início do campeonato mundial de pilotos, Alberto Ascari realizou algumas provas com o monolugar 500, somando três vitórias nas três corridas que, embora não pontuáveis para o campeonato, eram muito importantes para reforçar o
prestígio da marca.
O milanês impôs-se no Circuito de Siracusa, a 16 de Março, no Grande Prémio de Pau em França a 14 de Abril e, por último, no Grande Prémio de Marselha a 27 do mesmo mês.
É interessante referir que, no Grande Prémio de Siracusa, a Ferrari conquistou os seis primeiros lugares classificando depois de Casari, Taruffi, Farina, Fischer, Whitehead e Franco Comotti.
Ascari faltou ao primeiro grande prémio pontuável para o campeonato, realizado na Suiça, por uma razão muito especial: a tentativa da Ferrari para inserir o seu nome no quadro de honra das 500 Milhas de Indianapolis.
A corrida americana contava para o campeonato mundial de pilotos e um bom resultado seria útil às ambições do "Cavallino Rampante" e ajudaria Luigi Chinetti na sua tarefa de impor a marca no mercado norte-americano.
INDIANAPOLIS
A finalidade da missão de exploração efectuada em 1951 estava agora bem clara pois as condições em 1952 eram favoráveis a uma participação.
Chinetti tinha encontrado clientes desejosos de adquirir um monolugar adaptado para as 500 Milhas e, por outro lado, estava disponível muito material de Fórmula 1 já não utilizável após a conclusão da temporada de 1951.
Foram preparados cinco automóveis, um dos quais inscrito por Enzo Ferrari, como consta da ficha de verificação, era destinado a Alberto Ascari e, os restantes quatro, a clientes de Chinetti.
Destes quatro apenas seguiram três em virtude do outro ter ficado danificado, num acidente de Nino Farina, numa competição realizada no Parque Valentino em Turim, a 6 de Abril, e não ter podido ser reparado a tempo.
Os carros, com motor de 12 cilindros em V e dupla ignição, tinham sido alterados num milímetro de diâmetro, tendo passado a 79 mm, com um curso de 74,5 mm de que resultou uma cilindrada de 4 382 cm3 que era o limite, segundo o regulamento americano. A potência declarada era de 380 Cv a 7 500 rpm e tinham um peso de
cerca de 790 kg.
As quatro voltas que cada piloto principiante (ou rookie como era definido) tinha de dar, com os instrumentos tapados, foram cobertos por Ascari com uma regularidade incrível, pois os seus tempos não diferiam mais de um décimo de segundo. Mas a bravura e habilidade de Ascari não eram suficientes porque ao carro
faltava velocidade e aceleração pelo que foi decidido substituir os carburadores de duplo corpo por outros de quatro corpos combinados com a entrada de ar no "capot".
Esta decisão ajudou a melhorar um pouco mas não era suficiente pois os pilotos necessitavam efectuar duas passagens de caixa por volta, enquanto que, com os motores "Offy", os carros andavam sempre na relação mais alta da caixa de velocidades.
Dos quatro Ferraris, apenas Ascari se conseguiu qualificar na 19ª. posição.
A história da corrida, infelizmente, é curta. Ascari estava recuperando progressivamente quando na 40ª. volta, encontrava-se na altura em 12º., a jante da roda traseira direita partiu-se provocando a saída de pista do carro. Ascari saiu ileso e foi classificado em 31º. com base na distância percorrida.
Os mecânicos americanos haviam sugerido o uso de rodas de liga de "Halibrand" usadas por todas as restantes equipas, mas o conselho tinha sido ignorado.
CAMPEÃO MUNDIAL
Com Ascari ausente nos Estados Unidos, as cores da Ferrari, no circuito de Bremgarten, realizado a 18 de Maio, primeira competição válida para título mundial de pilotos e disputada com carro de Fórmula 2. foram defendidas por Taruffi, Farina, Simon, Fischer e Rosier.
A corrida foi ganha por Piero Taruffi, seguido de Rudi Fischer. Farina teve uma presença pouco feliz arrastando-se, na primeira volta, com problemas de motor e sucedendo-lhe o mesmo quando pegou no volante da viatura de Simon. Rosier foi eliminado devido a um acidente.
Regressado à Europa, Alberto Ascari começou o seu trabalho de colocar o monolugar Ferrari nas páginas da história.
A 22 de Junho em Spa - Francorchamps, vence o Grande Prémio da Bélgica e da Europa, seguido por Giuseppe Farina, tendoTaruffi perdido o terceiro lugar, quase no final, quando se despistou após colisão.
Um pormenor técnico interessante foi o de os carros terem montado pneus da fábrica local Englebert em vez dos habituais Pirelli.
A supremacia manteve-se no Grande Prémio do Automóvel Club de França, a 6 de Julho em Rouen-les-Essarts, onde os três pilotos da Ferrari, Ascari, Farina e Taruffi conquistaram os três primeiros lugares.
Alberto Ascari vence o Grande Prémio da Grã-Bretanha, em Silvestone a 19 de Julho, seguido de Taruffi; o Grande Prémio da Alemanha, a 3 de Agosto em Nurburgring, seguido de Farina e Fischer; e o Grande Prémio da Holanda, em Zandvoort a 17 de Agosto, seguido de Farina e Villoresi, conquistando a Ferrari, de
novo, os três primeiros lugares.
Por último, no Grande Prémio de Itália, em Monza a 7 de Setembro, onde a Ferrari alinhou com cinco carros pilotados por Ascari, Farina, Villoresi, Simo e Taruffi, a vitória esteve quase a fugir-lhe.
Por um pouco que o "filho pródigo" Froilàn Gonzalez, o argentino que no ano anterior tinha dado a primeira vitória de Fórmula 1 à Ferrari, não arruinava a festa.
Com efeito, com o seu Maserati, lutou pela vitória, acabando por se classificar em segundo, atrás de Ascari e deixando para trás os outros quatro pilotos da equipa.
Mas, o sucesso tinha sido completo pois a Ferrari tinha ganho as sete provas do campeonato e Ascari era o novo campeão do mundo.
AS OUTRAS CORRIDAS
Em 1952, os Ferraris "sport" e "grande turismo" corriam por toda a parte e as numerosas vitórias nas competições mais diferentes impulsionavam a importância internacional da marca.
Giovani Bracco, conduzindo um novo 250, conquistava mais uma vitória nas "Mille Miglia", a primeira de uma longa e gloriosa carreira deste modelo.
O carro preparado para a corrida, um 250 S, era um protótipo construído num chassis similar aos 225 S com motor derivado dos 125, mas com uma série de alterações que lhe tinham duplicado a cilindrada, embora conservando as dimensões externas do bloco.
Também os velhos monolugares de F1 e fórmula livre com compressor com os argentinos Fangio e Gonzalez e o brasileiro Chico Landi continuavam a obter sucessos em competições caseiras e da Europa.
A estas, deve-se acrescentar um monolugar tipo 212 sem compressor (dos dois construídos a título experimental) vendido ao piloto suíço Rudolf Fischer.
OS MODELOS DE ESTRADA
O desenvolvimento dos modelos de estrada da Ferrari fazia-se simultaneamente com a dos carros de competição, numa actividade frenética.
Durante o ano de 1952 foram construídos novas versões dos carros de "sport" com os motores de 12 cilindros de Colombo, os 225 S e os 250 S. assim como os 340 México com motor de Lampredi.
O 340 México era uma variante do motor 340 montado num chassis especial e dos quais apenas se construíram quatro destinado ao infatigável Luigi Chinetti que esperava repetir o êxito de 1951 na corrida Pan-americana.
Porém, toda a evolução de um modelo para outro, com mais diâmetro e curso, não foi fácil e todos os componentes do motor tiveram de ser cuidadosamente remodelados e melhorados, o mesmo sucedendo com o chassis que, no caso do 340
México, tinha uma distância entre eixos de 2 600 mm, ou seja, menos 50 mm que o 342 América que, mesmo assim, eras mais longo que o do 340 América, um modelo de 1950, cuja distância entre eixos era de apenas 2 420 mm.
Todo o chassis tubular, caracterizado por uma super estrutura, foi, no caso do "México", reduzida porque se pretendia que funcionasse com uma carroçaria aberta.
Os chassis foram enviados para Vignale, em Turim, que fez três "berlinetas" e um "cabriolet" num projecto de Giovanni Micheloti.
Um dos três "berlinetas" foi conduzido no México por Chinetti e Jean Lucas que terminaram na 3º. posição.
A empresa, em 1952, construiu apenas 44 unidades. Todavia, um dos elementos essenciais do sucesso da marca era um documento
meticuloso que atestava todas as variações de um tipo de motor para outro, assim como do chassis.
A "base distinta" (lista detalhada de peças) em que eram mencionadas todas as aplicadas para construir um motor, juntamente com uma folha de conjunto que era basicamente o bilhete de identidade do carro, era um feliz e meticuloso documento
que permitia estabelecer, rapidamente, qual a diferença entre os diferentes modelos e até a diferença entre dois exemplares do mesmo modelo.
Por exemplo, o novo tipo 250 S que venceu as "Mil Milhas" de 1952 parecia, no exterior, semelhante ao tipo 225 do qual conservava o chassis com as dimensões principais.
O motor com o diâmetro e curso alterados para 73 x 58,8 cm3 tinha sido dotado de novos elementos com condutas de ar para cada cilindro o que permitia utilizar três carburadores de corpo duplo ou três quádruplos se houvesse necessidade de mais elevados níveis de potência.
Em 1952, na Ferrari trabalhava-se com três famílias de motores: o original V12 projectado por Colombo que chegara ao limite de três litros; a nova família do F1 de Lampredi que partiu dos 3,3 litros do tipo 255 e chegava aos cinco litros; e a nova família dos quatro cilindros em linha, monolugar que, rapidamente, tinha dado origem
a uma importante série de carros de "sport".
PININ FARINA
No seguimento do encontro realizado no Outono do ano transacto, 1952 marcou o início das carroçarias de Pinin Farina para a Ferrari com a produção de um "cabriolet" sobre um chassis tipo 212 EL apresentado na Feira de Genebra.
A este seguiu-se imediatamente outro e, progressivamente, outras versões de "coupé".
IMOLA
Entre os acontecimentos importantes de 1952 deve ser recordado o da inauguração do Autódromo de Imola por cuja construção Enzo Ferrari se empenhou bastante, dada a sua proximidade de Modena.
Continuamente melhorado, foi denominado primeiramente de Dino Ferrari e, mais tarde, também de Enzo, tornando-se de 1980 a 2006 palco de um grande prémio de F1 pontuável para o campeonato.
RESULTADOS
No tradicional anuário, Enzo Ferrari escreveu a sua mensagem de cumprimentos e agradecimentos, enumerando as 95 vitórias obtidas por pilotos famosos como Fangio, Gonzalez, Farina, Ascari e Villoresi, entre os quais se encontravam também nomes de
pilotos e localidades dos Estados Unidos como Phil Hill vencedor em Santa Mónica e Bil Spear em Bridgehampton que ajudavam a Ferrari a criar nome nesse mercado vital.
A lista de títulos alcançados pelo "Cavallino Rampante" é longa.
Começa com o campeonato mundial de pilotos conquistado por Alberto Ascari e que foi a vitória mais importante do ano.
Prossegue com a vitória no Grande Prémio de França com a estreia dos três primeiros lugares conquistados pelos porta-estandartes da Ferrari: Ascari, Farina e Taruffi.
Seguidamente passa para os títulos nacionais de Itália: Campeonato Absoluto de Velocidade com Ascari; Campeonato Italiano de Fórmula 2 com Farina; Campeonato Italiano Absoluto de Carros de Sport com Paolo Marzotto; Campeonato Italiano de Sport - Classe 2000 com Giletti; Campeonato Internacional de Grande Turismo para além de 2000 com Cornacchia; Campeonato de Montanha de Sport com Palmieri; Campeonato de Montanha de Grande Turismo com Saraceni.
No estrangeiro, a Ferrari distingue-se com a conquista do Campeonato Absoluto Suíço com Fischer; o Campeonato de Sport Suíço com Jean Charles de Tscharner e o Campeonato Absoluto de França com Rosier.
Além das vitórias e superioridade em quase todas as corridas extra campeonatos, a Ferrari ganhou em 1952 todas os sete grandes prémios do campeonato mundial de pilotos (Ascari 6, Farina 1) e conseguiu 6 dobradinhas, 2 triplas e 1 quádrupla , além
da pole e melhor volta em todas as provas (quatro hat-tricks para Ascari).
Nas vinte e seis participações oficiais apenas teve sete abandonos por causas mecânicas.
NOTA: Este "post" é o resumo livre e aumentado do capítulo respeitante ao ano de 1952 da obra "L'Opera e il Sogno"
FONTES: "L'Opera e il Sogno", "Grand Prix - A história da Fórmula 1", "Bandeira da Vitória - A história do Automobilismo" e "Ferrari - 60 ans de scuderia"
Contribuído por Armando de Lacerda , Domingo, 21 de Dezembro de 2008 às 10:11
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