A situação em Angola degradava-se dia a dia e só um visionário poderia teimar em realizar o certame.
Todos os dias haviam pessoas a deixar Angola. Eu havia sido convidado a visitar o Brasil, convite que acabei por não aceitar porque os aviões começavam a ir cheios, porque receava deixar a família sozinha em Angola e porque toda a minha preocupação era que a Finol/75 se realizasse.
Pelo Carnaval deu-se o primeiro caso preocupante em Nova Lisboa. Eu mandara construir no recinto da feira uma discoteca, a Boite Etc, que era explorada pelo meu filho mais velho.
Para evitar qualquer confusão durante o Carnaval, meu filho resolvera que durante aquele período, a boite só seria frequentada por quem tivesse mesa marcada.
Eu estava numa das mesas com o resto da família e alguns amigos e vivia-se um ambiente de alegria quando tudo se complicou. Numa das mesas, um grupo de oficiais do exército português, já um pouco embriagados, levanta a confusão de que tinha sido roubada a carteira de um deles e ninguém sairia dali sem ser revistado.
E, não satisfeitos com isso, telefona para o quartel e manda vir a tropa que cercou a boite, todos de G3 apontadas. Enquanto eu tentava serenar os ânimos, alguém telefonou para o MPLA a relatar o que se estava a passar e de imediato surgiram os guerrilheiros que tomaram posições entre a tropa e a boite. Estava iminente uma confrontação pois não satisfeitos com a situação que haviam arranjado ainda a tentavam piorar distribuindo cerveja aos militares.
Aí assisti à atitude de um guerrilheiro que demonstrou muito mais bom senso. Chamou um dos oficiais que estava tentando dar uma caneca de cerveja a um militar e disse-lhe: “Meu capitão, armas e álcool não são bons conselheiros. Por favor não faça isso”.
Durante alguns minutos a situação esteve muito tensa e a todo o momento podia-se dar ali uma confrontação de resultados lamentáveis. Por fim, os ânimos serenaram e, não sei se por terem passado os vapores do álcool, os oficiais mandaram recolher a tropa ao quartel o mesmo sucedendo com o MPLA.
No dia seguinte, apresentei queixa, sem qualquer resultado, no quartel contra o procedimento daqueles oficiais que não obtiveram outro resultado senão um pedido de desculpas do comandante.
Dois dias depois, um dos contínuos da feira veio entregar-me uma carteira que havia encontrado no meio das ervas. Certamente que aquele oficial havia dado um passeio à volta da boite para tomar ar e tentar minorar um pouco os efeitos do álcool e perdera a carteira.
Passado algum tempo, estava no cinema quando, no intervalo, alguém me disse que o prédio onde eu morava iria ser alvo de uma rusga que procurava armas. Embora, nunca tivesse tido uma única arma, por ser contra elas, não fiquei sossegado e já não assisti ao resto do filme pois tinha a mulher e dois filhos sozinhos em casa. O mais velho, entretanto, casara e já tinha abalado com a mulher para Lisboa.
Por volta das três da madrugada começámos a ouvir passos na escada, para baixo e para cima e, às tantas, bateram-me à porta quase como se a quisessem arrombar. Pretendi ir abrir mas a minha mulher, sempre protectora, impediu-me de o fazer e foi ela abrir.
Era elementos do exército “desunificado” composto pelos três movimentos e militares portugueses que passaram busca a toda a minha casa.
Apesar do ambiente que se vivia eu continuava com a ideia fixa de realizar a Finol e, através do telefone, contactava todos os possíveis expositores no sentido de os entusiasmar a estarem presentes. Era habitual, durante o ano, visitá-los e falar sobre a sua presença na feira. Em 1975, por falta de segurança, já o não fiz limitando-me a contactos pelo telefone.
Apenas, dias antes da inauguração da Feira passei alguns dias em Luanda para ultimar os últimos detalhes.
E a FINOL/75 realizou-se e, apesar de todas as contrariedades que sofreu, foi um grande certame como se poderá ver no próximo capítulo.
terça-feira, 30 de junho de 2009
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