A semana passada tive o prazer de assistir a uma boa noite de teatro o que, digo com tristeza, há muito tempo não sucedia.
Com bastante mágoa minha, eu que durante muitos anos, em Lisboa, não perdia uma única peça, apenas fui ao renascido D. Maria II duas vezes.
Uma para ver o “Passa por Mim no Rossio, e agora para assistir ao “Agosto em Osage”.
Apesar de desterrado, há longos anos em Évora, ainda tentei, numa das minhas deslocações a Lisboa, ver a Eunice na “Mãe Coragem”, mas encontrei sempre a lotação esgotada. Para meu mal, mas para bem do teatro que teve um público que soube apreciar a belíssima peça de Bertolt Brecht e a extraordinária interpretação daquela grande Senhora do teatro que é Eunice Munoz e que depois tive oportunidade de ver na televisão, embora não fosse a mesma coisa.
Mas tarde. quis ver o meu grande Amigo Ruy de Carvalho naquela personagem, que tanto sonhou interpretar, “Rei Lear”. Todos os dias tentei adquirir bilhete mas deparei sempre com a lotação esgotada e, ao fim de uma semana, verifiquei com espanto que havia terminado a sua exibição.
Fiquei na esperança que viesse a ser reposta o que se chegou a falar mas que não teve concretização porque, entretanto, haviam destruído os seus cenários. São razões que a razão desconhece, fruto de um mundo que, por vezes, não consigo compreender por mais esforços que faça.
Assisti, agora, como dizia a princípio, ao “Agosto em Osage” e dei por bem empregue a viagem e o ter de me deitar já depois das duas da madrugada.
Com uma boa encenação de Fernanda Lapa e com um excelente elenco de que me permito destacar as excelentes interpretações de Lia Gama e Margarida Marinho. Trata-se de uma peça com um grande número de personagens, treze, e com três horas e vinte minutos de duração já pouco usual no teatro moderno.
O autor Tracy Letts, que desconhecia, escreveu um drama que está na esteira de autores como Tennessee Williams e Eugene O’Neill e que desmistifica o “sonho americano”.
Mas se apreciei tanto aquele momento de bom teatro, não foram menos importantes os momentos que vivi, antes da peça começar e durante os intervalos, lembrando todas as recordações que guardo do velho D. Maria antes deste ter sido destruído pelas cinzas. E como foi bom a memória reviver tantos e tão belos momentos.
Recordei as excelentes interpretações e grandes peças que, apesar de todos os obstáculos que a Censura lhe levantava, Amélia Rey Colaço conseguiu levar a cena.
Recordei as vezes que, como amador, ali tive o prazer de representar.
Revi, em imaginação, o local onde ficava o camarim da Avó Palmira e as conversas que com ela tive o prazer de ter, momentos inesquecíveis que hei-de recordar aqui no blog.
E. em imaginação, fui até ao camarim de Pedro Lemos lembrando as lições que dele recebi e como se estreitaram os nossos laços de amizade.
E aquela noite memorável em que alguém convenceu o General Norton de Matos a ir ao teatro e ali deparou, ao intervalo, com uma estrondosa manifestação que, em segredo, lhe havíamos preparado e que conseguiu passar através das malhas da Pide que não a conseguiu impedir. Como recordo, na cadeira ao meu lado, em pé em cima dela,Manuel João Palma Carlos dando vivas à República e à liberdade. Noite que pude lembrar quando, pouco tempo depois, festejava o meu décimo nono aniversário incomunicável nos “curros” do Aljube. Mas não conseguiram tirar-me o prazer daquela noite.
E as confusões e aproveitamentos aproveitados pelo facto de os actores estarem espalhados pelo teatro na peça “ O Processo de Jesus”.
Momentos que recordei nessa noite e que, a pouco e pouco, hei-de trazer a este blog.
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