terça-feira, 21 de julho de 2009
MISS PORTUGAL E AS 6 HORAS DE NOVA LISBOA
Em 1971, Maria Celmira Bauleth, natural de Moçamedes, ganhou o concurso de Miss Portugal, o que foi motivo de grande orgulho para os angolanos.
Como homenagem, a organização das “6 Horas de Nova Lisboa” endereçou-lhe um convite para assistir aquela prova como convidada de honra.
A Riquita, como era vulgarmente tratada, manifestou o desejo de aceder à distinção se, nessa data, se encontrasse em Moçamedes e tal lhe fosse permitido pela organização a que se encontrava ligada, ou seja, o semanário Notícia”.
Posto o assunto aquela entidade, rapidamente, recebemos uma resposta afirmativa, mas com uma série de condições que logo rejeitámos por inaceitáveis.
Na íntegra, “Notícia” exigia:
«Miss Portugal» assistirá como convidada à Prova «6 Horas de Nova Lisboa», não podendo ser utilizada em qualquer manifestação de carácter comercial ou publicitário – que teria de ser objecto de contracto específico;
«Miss Portugal» será acompanhada por uma pessoa de família e por um elemento da Organização (NOTÍCIA) a quem caberá a responsabilidade da aprovação do programa da sua estadia.
Os encargos, de vossa conta serão:- Transportes aéreos Moçâmedes – Nova Lisboa – Moçâmedes para 2 pessoas (Miss Portugal e pessoa de família);- Transporte aéreo Luanda – Nova Lisboa – Luanda, para um elemento da Organização;-
Alojamento, em Nova Lisboa, para 3 pessoas;
- 20 000$00 (vinte mil escudos) depositados, antecipadamente, num Banco de Nova Lisboa, a favor de Maria Celmira Bauleth ou NOTÍCIA – Semanário Ilustrado.
Apreciadas estas condições, achávamos correcto e não precisava sequer estar a mencioná-lo que ao Sporting Clube do Huambo coubesse a responsabilidade de passagens e alojamento para a Riquita e para uma pessoa de família que a acompanhasse.
Mas porquê a obrigatoriedade de agregar à comitiva qualquer elemento da “Notícia” porquanto, aceite as condições, estas seriam por nós respeitadas e a própria Riquita se recusaria a transgredir, não necessitando de um mentor ou fiscal a limitar-lhe os movimentos.
Porém, o que mais nos chocou foi a exigência de um autêntico “cachet” de 20 000$00 pela “exibição” de Miss Portugal como se se tratasse, não de uma convidada de honra, mas de um fenómeno que se mostra em circos.Lembrámo-nos da frase “não há dinheiro… não há palhaço” e, pelo respeito que a Riquita nos merecia, não houve mesmo “palhaço” como a “Notícia” a considerava.
Foi uma exigência muito infeliz e inoportuna, tornando-se mesmo ofensiva para uma Cidade que sempre acarinhou a mais bela das jovens angolanas e que nos era apresentada como objecto de negócio incompatível com as intenções que originaram o nosso convite.
Passado um ano, em 1972, ao iniciar a volta de honra, o Carlos Santos chamou o Nicha (que naquela prova, além de piloto, se estreara como “mecânico”) para o acompanhar.
Já com o carro em andamento, o Nicha viu a Riquita entre a assistência (não como convidada de honra, como havíamos desejado no ano anterior, mas como mera espectadora) e chamou-a também para o carro.
Durante toda a volta de honra, o Roger Heavens quase deixou de se ver, a assistência entusiasmada só gritava pelo Nicha e pela Riquita e o Carlos Santos comentava que ganhara a prova mas o público só aclamava os outros.
E foi assim que a Riquita impedida de ser convidada de honra em 1971, foi aplaudida e deu a volta de honra nas “6 Horas” de 1972.
E isto sem quaisquer custos para a organização…
Contribuído por Armando de Lacerda, Domingo 14, às 0:26
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:-)
ResponderEliminaresta é daquelas histórias incontornáveis