quarta-feira, 24 de abril de 2013

25 de Abril de 1974!

Acabara de entrar no meu gabinete de trabalho e quando me sentava à secretária o telefone retiniu. Levantei o auscultador e ouvi uma voz: É o Sr. Armando de Lacerda? Fala da Polícia Internacional e Defesa do Estado. Era para saber se nos podia receber porque temos umas perguntas a fazer-lhe. Respondendo que podiam vir quando quisessem, fiquei a pensar no motivo daquele telefonema e o que quereriam de novo. Pelo menos, aparentemente, estavam mais civilizados pois, 25 anos atrás, para me interrogarem tinham-me enfiado nos “curros” do Aljube. De momento, nem me lembrei que na véspera tinha dado uma conferência de imprensa para anunciar a formação, em Nova Lisboa, de um grupo de teatro e apresentara os elementos que constituíam a comissão organizadora. Afinal era esse o motivo da visita. O agente não se fez esperar e explicou que o Sr. Inspector tomara conhecimento da criação do grupo e, como era uma pessoa que se interessava muito pela cultura, gostaria de saber qual eram as nossas ideias e que peças pensávamos levar à cena. Com alguma ironia, descansei o homem dizendo-lhe que todos os espectáculos que pensássemos fazer eram com peças que já tinham, forçosamente, passado pela comissão de censura. O homem lá foi informar o seu inspector e eu resolvi ir tomar ar e beber um café na “Kambu”. Ainda pensava naquele episódio quando um amigo me informou que se tinha dado um golpe de estado em Portugal. Afinal a tal polícia que se pensava tão bem informada, em Nova Lisboa andava preocupada com o nascimento de um pequeno grupo de teatro e nem sequer sabia que, naquela altura, o regime que os mantinha já tinha caído. O resto do dia foi de loucura e nem mais pensámos no episódio da manhã. Desconhecíamos ainda se teria sido um golpe de esquerda ou de direita. Sabíamos apenas que a longa noite tinha terminado. Em casa, com a família e alguns amigos tentávamos ouvir o máximo de notícias com vários aparelhos de rádio ligados e festejávamos radiantes. Minha mulher, também feliz mas ao mesmo tempo nunca se desviando da sua lucidez, dizia: Vocês estão completamente loucos a rir dessa forma. Olha que ainda vão chorar. Como ela estava certa … Passaram 39 anos e quantas dificuldades passámos. Mas ao mesmo tempo quanta alegria vivemos. Pouco mais de um ano sobre esta data, regressámos a Portugal absolutamente sem nada e tivemos de começar toda uma vida de novo. Saímos com vida de uma guerra civil mas estivemos à beira de viver outra. Mas todos fomos caminhando. Portugal progredia e o seu povo vivia finalmente em liberdade e com mais condições de vida. Entrámos na Comunidade Europeia e a troco de acabar com a agricultura, a pesca e a indústria recebíamos ajudas para, dizia-se, nos modernizar. Por todo o lado surgiam acções de formação para modernização mas que apenas estavam a servir para encher os bolsos de alguns e aumentar a sua belíssima frota automóvel. Com alguns malabarismos financeiros, conseguimos apanhar a primeira carruagem do comboio do euro. Parecia que nunca mais iríamos ter problemas, embora minha mulher, sempre com a sua lucidez, ao ver chegar tanta ajuda, dizia que ninguém dava nada a ninguém e iríamos pagar tudo aquilo com juros. Mais uma vez estava certa. Os erros dos sucessivos governos endividando-se cada vez mais, olhando apenas aos resultados eleitorais que poderiam obter com as suas obras iam enchendo os bolsos de alguns. A ganância especulativa da banca mundial originava a crise que se tem vivido e atirava-nos para a situação em que nos encontramos. As agências de “rating”, que fecharam os olhos aos que provocaram a crise, deram-nos a machadada final e caindo-nos em cima como abutres consideraram-nos "lixo" obrigando-nos a cair nas mãos da “troika”. Hoje, somos um país intervencionada em que os únicos sinais de independência que nos restam são uma bandeira e um hino. Na presidência da república e no governo estão pessoa a quem o 25 de Abril nada diz e que nos reduzem a uma austeridade que cada vez mais nos atira para uma situação sem saída. Todas as conquistas sociais alcançadas vão sendo reduzidas a pouco e pouco até à sua extinção. O desemprego aumenta e a miséria é cada vez maior. Mas não podemos perder a pouca esperança que nos resta. Os jovens não têm emprego e só lhes resta a solução de emigrarem. Mas, pelo menos, estão livres daquele pesadelo de irem morrer num campo de batalha distante como sucedia antes do 25 de Abril. Nós não vemos alternativa a este governo mas resta-nos o poder votar e substituir os actuais governantes. E eu posso ter tido este desabafo e transmiti-lo sem ser impedido pela censura. Nem tudo está perdido. Como diz Miguel Sousa Tavares no seu último livro “Não há perdão. Mas há sempre esperança, tem de haver. Portugal não acaba assim nem agora”. OS CRAVOS DE ABRIL NÃO PODEM MURCHAR

terça-feira, 9 de abril de 2013

RECORDANDO COM SAUDADE

Foi há quatro anos que me deixaste ao fim de 56 anos de felicidade em que me proporcionaste tudo o que um ser humano pode desejar. A caminhada tornou-se muito mais difícil e apenas a recordação dos bons momentos que vivemos e a amizade dos três filhos que me deste me tem dado alento para caminhar. Mas cada dia que passa parece que a saudade é maior, tão grande, tão grande que tanto me faz sofrer. É recordando tudo que me deste e todo o amor que sempre nos manteve unidos que deixo aqui uma fotografia tua com os nossos filhos a quem dedicaste toda a tua vida. ATÉ SEMPRE MEU AMOR.