terça-feira, 1 de dezembro de 2015

FOI HÁ 63 ANOS

Tanta alegria e felicidade há 63 anos! Tanta tristeza e saudade hoje. Foi há sessenta e três anos que, no casamento da minha prima La Salete, encontrei aquela que seria a minha companheira de toda a vida. Desde aquele dia maravilhoso em que nos conhecemos não mais nos deixámos. Durante um ano, através de correspondência diária, fomo-nos conhecendo e criando uma união que nos deu força para enfrentar todas as dificuldades que nos surgiram ao longo dos anos. Desde aquele inesquecível dia, a minha querida Teresinha entregou toda a sua existência a mim e aos nossos filhos. Que companheira encantadora; que mãe maravilhosa. Que saudade tão grande e como têm sido difíceis estes últimos seis anos em que, a todo o instante, sinto a grande falta que me faz. Tal como o faço há seis anos, neste dia, fui deixar na nossa campa um ramo de rosas vermelhas símbolo da grande paixão que há 63 anos aquece este velho e cansado coração que anseia por se juntar a ti. Como dói, querida Teresinha, este desejo de te ter junto a mim.

sábado, 22 de agosto de 2015

RECORDANDO A COSTA DO PASSADO

Sentado na esplanada do café da Rua dos Pescadores, na Costa da Caparica, olho para quem passa. A pouco e pouco, começo a viajar no tempo e aquele prédio que está à minha frente vai-se desvanecendo e vejo o velho “Pape-seco” com a sua esplanada onde nos sentávamos a lanchar. No meio daquelas pessoas. eu caminho com toda a energia dos meus vinte e poucos anos e, comigo, a minha querida Teresinha e os nossos filhos de pouca idade e com a alegria das férias que, todos os anos, ali passavam. Com que saudade recordo tudo e, apesar do sol não estar muito intenso, ponho os óculos escuros para que as pessoas não vejam os olhos húmidos. Como era bom poder voltar para trás e viver tudo outra vez.

domingo, 2 de agosto de 2015

PASSEANDO POR LISBOA E VOANDO NO TEMPO

Aproveitando a nossa estadia no Funchalinho, temos dado longos passeios por Lisboa (pensava que as minhas pernas já não permitiam) enquanto recordo todos os momentos que ali vivi até aos meus trinta e sete anos. Tem sido muito bom e sinto-me feliz naquela Lisboa que tanto amo. Há dias, deixámos o carro no parque do Largo de Camões, apanhámos o eléctrico para a Graça e, depois de passarmos pelo miradouro Sofia de Mello Breyner Andresen, descemos aquela longa escadaria até aos novos jardins da cerca da Graça que estão lindos. Depois de um refresco, tomado no quiosque destes jardins, continuámos a escadaria até à Mouraria, dali até à Martin Moniz e na Rua Barros Queirós parámos na esplanada do velho Restaurante Tábuas para almoçar. As pernas, embora doessem um bocadinho, tinham aguentado uma caminhada que eu pensava já não serem capazes de fazer. Acabado o almoço, de novo a andar até ao Elevador de Santa Justa que tantas vezes subi por dois tostões sem ter que esperar em qualquer fila e agora tivemos de pagar cinco euros por pessoa, depois de aguardarmos numa longa fila. Depois da subida no elevador, de novo a caminhar pelo Largo do Carmo, Chiado e Praça Luís de Camões de onde tínhamos partido. A caminhar passámos de uma colina para outra desta Lisboa que cada vez está mais linda. Apesar de, nesta cidade, sempre ter feito grandes caminhadas, nunca me pensei ainda capaz deste feito. Deste dia maravilhoso, apenas um pequeno senão. Ao entrar, com a minha bengala, no eléctrico, que estava a abarrotar, imediatamente uma senhora se levantou para me dar o seu lugar. Ora durante os muitos anos que utilizei este meio de transporte fui sempre eu que cedia o meu lugar quando estava sentado e via uma senhora de pé. Agora é o contrário e, embora tivesse agradecido e não quisesse aceitar fui eu, afinal, que seguiu sentado. AI … OS ANOS NÃO PERDOAM!

sábado, 25 de abril de 2015

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava O dia inicial inteiro e limpo Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo Sophia de Mello Breyner Andresen Há 41 anos não posso dizer que o dia começara bem. Uma conferência de imprensa, realizada na véspera, para comunicar a criação de um grupo de teatro originou que, logo de manhã, fosse visitado por um pide que me submeteu a um interrogatório sobre o que iríamos levar à cena pois o “senhor inspector interessava-se muito por teatro”. O “pobre-coitado”, alto cargo da famigerada polícia que se dizia tão bem informada, estava preocupado com o perigo de um pequeno grupo de teatro ignorando que, naquela altura, o regime que ferozmente defendia estava prestes a cair. Terminado o interrogatório, resolvi ir espairecer e beber um café à Kambu onde alguém me informou que tinha havido um golpe militar em Lisboa. Escusado será dizer que, naquele dia, já não fiz nada que não fosse estar junto do rádio tentando saber tudo que se passava. Feito por militares, receava que fosse um golpe de direita mas, ao mesmo tempo, sentia uma alegria muito grande porque a longa noite de quarenta e oito anos tinha chegado ao fim. Com a continuação das horas e a chegada de notícias fomos tomando conhecimento que estávamos em face de um golpe que restituía a democracia e a garantia da restituição da liberdade, extinção da pide e da censura, libertação dos prisioneiros políticos, realização de eleições e direito dos povos colonizados à sua independência. A constituição da Junta de Salvação Nacional, composta por personalidades de certo modo ligadas ao regime deposto, oferecia-nos alguns receios mas a sinceridade do movimento das forças armadas e a força manifestada pelo povo português que transformou um golpe de estado numa autêntica revolução dava-nos confiança. E, assim, continuámos a trabalhar para o desenvolvimento de Angola felizes porque iria ser independente e pensando, utopicamente, que seria possível todos ali continuar a contribuir para o engrandecimento deste novo país. Mas, os anos de guerra tinham sido muitos, os movimentos de libertação digladiavam-se entre si enquanto os Estados Unidos e a União Soviética os armavam numa tentativa de virem a impor ali a sua influência. Num país em pé de guerra onde a situação se degradava, dia a dia, ainda consegui que a Feira Internacional de Nova Lisboa se realizasse em 1975 que, apesar da situação, foi a maior de todas. Foi inaugurada mas teve de encerrar antes da data marcada. A situação degradara-se e a cidade enchia-se de refugiados à espera de uma ponte aérea que os fizesse sair de Angola. Nova Lisboa caía em poder da Unita e transformava-se numa cidade fantasma. A 29 de Agosto regressei a Portugal para gozar a minha graciosa mas sabia que era uma viagem sem regresso. Ali deixava tudo o que tinha adquirido em Portugal e que para ali levara mais o que adquirira nos meus anos de Angola. Feliz porque tinha junto de mim a mulher e os filhos tive de iniciar uma vida nova num país novo e livre. De novo, começava do zero mas com a força que me era transmitida por um povo que estava a fazer uma autêntica revolução. O governo não conseguira fazer uma boa descolonização mas apenas aquela que era possível devido ao atraso e às condições em que se fizera com um exército que não mais queria combater e movimentos fortemente armados e motivados. Em contrapartida, enfrentava o regresso de milhares de refugiados diligenciando e conseguindo que todos fossem instalados e pudessem iniciar uma nova vida. Conquistou-se uma educação aberta a todos e não apenas a alguns privilegiados; um serviço nacional de saúde para todos; uma segurança social que garantia as reformas para que os trabalhadores haviam descontado; salários e direitos garantidos aos trabalhadores. Foram conquistas que muita corrupção e a subjugação do poder político ao poder económico veio pôr em perigo e, a pouco e pouco, destruir. Com a integração na União Europeia e a troco de fundos para modernização destruíram-se as pescas, a agricultura e a indústria. Os fundos enviados nada modernizaram e serviram apenas projectos oportuníssimos e compra de boas viaturas topo de gama. Ficámos sem meios de produção e com a corrupção de muitos e a subjugação total do poder económico ao poder económico chegámos a esta crise originada não por se viver acima das possibilidades, como apregoam, mas pela actividade suicida das instituições bancárias. A denominada crise, que não afecta só o nosso país, não tem solução nem fim porque pretende apenas reduzir cada vez mais os direitos dos trabalhadores e aposentados enquanto outros enriquecem cada vez mais. E é assim que chegamos a este 25 de Abril com um governo que tudo tem feito para cumprir as directrizes que lhes são dadas. As poucas empresas que ainda possuíamos estão a ser entregues ao capital estrangeiro; estudam-se leis que pretendem fazer regressar a censura à nossa comunicação social, apesar dela já estar de certo modo controlada; a justiça a causar alguma preocupação pela demora e atitude como resolve as várias situações. Tudo isto é preocupante, mas deixa-me confiante porque ainda temos o direito de votar e de poder mudar esta situação. O povo que em Abril de 1974 transformou um golpe militar numa verdadeira revolução pode voltar a pôr ponto final à situação que vivemos. Este relambório mal escrito e à pressa não tem outra pretensão que não seja o recordar uma data muito querida e ao mesmo tempo prestar a minha sincera homenagem e gratidão aos capitães de Abril e a todos os democratas e antifascistas que souberam pôr fim a um regime de triste memória, ao mesmo tempo que transmito a minha confiança no futuro. ABRIL VENCERÁ.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

VOANDO NO TEMPO

Quanto mais os anos passam mais as asas do pensamento voam através do tempo pousando nos mais variados acontecimentos de uma vida já com oitenta e cinco anos. Uns alegres, outros tristes; uns que me encheram de felicidade, outros de profundo desgosto; uns importantes, outros insignificantes; mas todos presentes com uma actualidade e uma força que me enche de uma saudade tão grande, tão grande, que até dói. Diariamente, o pensamento voa sem descanso recordando toda uma vida que, apesar de ter tido momentos muito difíceis, considero não ter podido ser melhor pois deu-me uma companheira que dedicou toda a sua vida a tornar-me feliz a mim e aos nossos três filhos que, cada um à sua maneira, me têm apoiado com carinho e ainda porque tenho seis netos e um bisneto que, uns mais outros menos, me têm dedicado muita amizade. Além disso, um feitio irrequieto, e decerto modo empreendedor, levou a dedicar-me às mais variadas coisas, do desporto à cultura passando pela política, a tudo me entregando sempre com um entusiasmo total. Mas o desejo de abarcar o máximo de coisas possíveis levava a que, da mesma forma que me dedicava totalmente a uma coisa, depressa a largava para caminhar para outra. Minha Mãe dizia, e minha mulher depois repetia, que apesar do entusiasmo que punha em tudo aquilo que fazia rapidamente me fartava e as abandonava. Não compreendiam que eu não me cansava nem deixava de pensar em tudo aquilo que fizera com tanto entusiasmo, mas a verdade é que sentia necessidade de partir para outra experiência. A vida era curta para tudo o que eu pretendia conhecer e viver. No desporto pratiquei andebol, tiro, esgrima, vela, equitação e automobilismo, todos com entusiasmo e gosto mas sem a preocupação de me tornar muito bom porque isso obrigaria a dedicação exclusiva a alguma. Fazia-o por prazer e não para me escravizar. Assim, fui praticante, dirigente e organizador. Ali deixei alguma coisa de mim, nunca pedindo nada pelo pouco que fiz. Tive a recompensa de criar amizades e, ainda hoje, recebo provas de afecto de pessoas, algumas crianças na altura, mas que me tratam com uma afeição que muito me sensibiliza. Gostava do desporto, mas como poderia eu dar-lhe muita atenção se tinha uma paixão maior: a CULTURA. Todo o tempo livre que o emprego me deixava ou estava entregue à leitura de um bom livro, ou a assistir à projecção de um filme ou de uma peça de teatro, ou de um concerto, ou de uma ópera, ou de um ballet, ou a ver uma exposição. Corria de um lado para o outro para não perder nada, sempre com o mesmo entusiasmo, talvez até com um certo exagero. Exagero tal que uma vez, num só dia, vi cinco filmes em cinco cinemas diferentes. Comecei no Cinema Império com uma sessão que faziam nas manhãs de domingo, durante a tarde assisti a duas "matinées", à noite a mais uma projecção e terminei na sessão da meia-noite do S. Luís. No Coro do Maestro Fernando Lopes Graça cantei e as exibições que fazíamos eram acompanhadas de uma parte de poesia ditas por duas grandes declamadoras: Manuela Porto ou Maria Barroso. Mais tarde estes espectáculos passaram a ter duas partes. Uma de música e a outra de teatro com o grupo criado por Manuela Porto que deu a conhecer Tchekhov, Pirandelo e Gil Vicente a populações que, até ali, pouco ou nenhum teatro tinham visto. A minha paixão pelo teatro levou-me a desejar entrar para o grupo de Manuela Porto e tinha a sua promessa de participar na peça seguinte que pusesse em cena. Isso nunca veio a suceder porque Manuela Porto suicidou-se e o grupo só realizou mais um espectáculo em sua homenagem com uma das suas peças mais bem conseguidas: “O Aniversário do Banco” de Tchekhov.Como homenagem aquela grande Senhora do Teatro, quis participar simbolicamente fazendo com o meu amigo, e já na altura grande actor, Rogério Paulo dois membros da delegação que entravam mudos e saíam calados. No teatro assistia a todas as peças que podia, quer no teatro profissional quer no amador; criei três grupos de teatro, organizei conferências, encenei, representei e fiz teatro radiofónico. Ainda me restou tempo para participar nas direcções de algumas colectividades (Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal, Federação Portuguesa de Campismo, Clube de Futebol Os Belenenses, Sporting Clube do Huambo e ATCA – Automóvel e Turing Clube de Angola), sem desprezar uma actividade política bastante activa que originou que eu festejasse o meu 19º. Aniversário nos “curros” do Aljube e, após 25 de Abril, uma longa participação autárquica e sindical. Este é o resumo de uma vida preenchida com mil e uma coisa, sem nunca desprezar o acompanhamento da mulher e dos filhos. Ao longo dela tive oportunidade de conviver com actores, escritores e desportistas dos quais sempre recebi atenções e com alguns dos quais criei laços de grande amizade. É sobre isto tudo, sobre todos os acontecimentos, sobre todos os pormenores por mais pequenos que tivessem sido que o pensamento voa, me recorda e deixa aquela saudade tão grande que, como dizia no princípio, chega a doer. Foi para registar tudo isto que criei o meu blogue “Voando no Tempo” onde diariamente iria registando tudo que ia acontecendo e tudo de que me ia lembrando.Mas, infelizmente, tenho de confessar que uma coisa terrível, que se chama “preguicite”, aparece sempre a contrariar e a impedir de relatar tudo aquilo que desejava. Vou fazer mais uma tentativa de vir aqui com frequência e tentar vence-la. Há tanta coisa que desejo registar e tanta que pensei faze-lo na altura em que ocorreram e que perderam a oportunidade. A vontade de registar tudo é grande, mas não prometo nada.