sábado, 8 de dezembro de 2012

RECORDANDO 59 ANOS DE CASADO

Faz hoje cinquenta e nove anos que casei, iniciando-se assim o mais feliz período da minha vida. Costumo, neste dia, deixar aqui algumas palavras recordando tudo que fiquei a dever à minha querida companheira de tantos e tantos anos e a dor de já a não ter junto de nós. Este ano limito-me a transcrever uma das habituais “estórias para crianças” da minha filha, postada ontem no Facebook, que tanto me sensibilizou. Ela encerra toda a felicidade que vivemos e quanto sentimos a falta da minha querida Teresinha. Estória para crianças: Era uma vez uma princesa que vivia na província, num meio fechado e onde todos casavam dentro da mesma casta. A princesa era rebelde e desobedecia às normas da sociedade. Um dia, encantou-se por um príncipe “estrangeiro” que nem reparava nela, mas a bela princesa apaixonou-se e tudo fez para cativar o Príncipe e cativou! Um ano após casaram. Foram felizes para sempre? Isso seria uma estória estúpida, porque como viveram tantos anos juntos não poderiam ser felizes a toda a hora. Foram cúmplices para sempre? Foram! Até ao dia que a Princesa partiu. A Princesa partiu, tal como foi seu desejo, antes do Príncipe. O Príncipe permaneceu fiel à sua Princesa depositando no seu túmulo uma rosa vermelha em todas “as suas datas”. Falta-nos a presença física da nossa Princesa mas “ela” é e será sempre a luz e a força que nos impede de desistir. Se a Princesa ainda estivesse connosco, amanhã faria 59 anos de casada, vaidosa como era viria com mais um anel comemorativo…

sábado, 1 de dezembro de 2012

RECORDANDO

Há 60 anos trabalhava numa empresa onde os únicos feriados que tínhamos eram o Natal, o Ano Novo e o 1º. de Dezembro. Não me lembro já se o 1 de Dezembro era facultativo ou se era obrigatório e no longínquo ano de 1952 o deixou de ser. Só sei é que, na empresa onde trabalhava, passámos a ter menos um feriado. Ora eu tinha uma prima em Évora de quem era bastante amigo e que casava naquele dia e a quem prometera que estaria presente. Como não gosto de faltar às minhas promessas e como nos tinha sido tirado um feriado que tivéramos, até aquele ano, resolvi que faltaria ao trabalho e iria mesmo ao casamento. Em boa hora tomei esta decisão pois além de não ter faltado ao prometido, dei alegria à minha prima e fui encontrar alguém que, a partir daquele dia, não mais deixou de estar presente na minha vida. A partir daquele abençoado dia, durante um ano trocámos cartas diariamente, algumas de muitíssimas folhas e, passado um ano, casámos, exactamente no dia 8 de Dezembro do ano seguinte. E, a partir dali, durante 57 anos, Ela foi a querida companheira de todos os dias, sempre presente nos bons e nos maus momentos, sempre disposta a sacrificar-se para que a mim e aos filhos nada faltasse. Deu-me tudo, numa entrega total, abdicando de tudo por mim e pelos filhos. Adorava os Pais mas abdicou da companhia deles para me acompanhar para Angola. Sonhava empregar-se para me ajudar nos nossos difíceis primeiros tempos mas abdicou desse sonho para se entregar inteiramente aos filhos a quem amou quase tanto como a mim. Faço esta afirmação porque, nos seus últimos anos de vida, quando os filhos lhe perguntavam de quem gostava mais, hesitava um pouco a pensar e respondia sempre: “Do Papá”. O pouco que realizei, ao longo da vida, a ela o devo porque me incitou sempre com o seu entusiasmo sem o qual nada teria feito. Nos momentos de perigo que vivemos, e alguns foram. tentou sempre proteger-me. Parecia uma frágil figura, mas tinha uma força indomável para defender o marido e os filhos. Como gostaria de poder exprimir tudo o que ela foi para mim e o quanto lhe devo, mas não consigo. Só sei que nos amámos inteiramente e que desde que me deixou, há quase quatro anos, a minha vida nunca mais teve a beleza que tinha. OBRIGADA QUERIDA TERESINHA POR TUDO QUE ME DESTE. NUNCA DEVIAS TER PARTIDO ANTES DE MIM! A terminar, quero deixar aqui a linda mensagem que minha filha postou no FB e que tanto me sensibilizou neste dia de tão belas recordações mas tão triste por não poder já viver a felicidade que vivi. A meus Pais: Pelo amor que me deram, por todos os momentos de felicidade, pelos valores de solidariedade, cidadania e liberdade sem subserviência, que prevaleceram sempre como regra de vida e porque amanhã é dezembro, porque sempre foi, para mim, o mês mais bonito do ano (e já não é), porque amanhã faz 60 anos que os meus Pais se conheceram e permaneceram juntos até ao dia que a minha adorada Mãe partiu. Em memória dos tempos que não voltam mas com a esperança que é Natal sempre que um homem quiser, relembro Ary dos Santos: Tu nasceste, foi Natal no teu berço pequenino É Natal em todo o mundo sempre que nasce um menino, Nós nascemos foi Natal, os nossos pais é que o fizeram, Do amor que os dois viveram veio a vida que nos deram. Hoje é natal, e amanhã vai ser natal outra vez, Porque afinal quando é Natal a gente nasce outra vez. Os teus pais são os operários do teu corpo pequenino. Amanhã serás operário do Natal de outro menino. Não nos mintam nunca mais a mentira é uma vergonha, Fomos feitos pelos pais não viemos na cegonha!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

TAPS FUNERAL MILITAR

Gostava desta música e ainda a coloquei no meu último comentário, mas desconhecia a sua origem e história. Só ontem, através de uma pessoa Amiga que teve a gentileza de me enviar este vídeo, tomei conhecimento da sua história que me comoveu tanto que não resisti a coloca-la aqui.

domingo, 26 de agosto de 2012

A FLORA SOLA

A “preguicite aguda” que, por vezes, me ataca tem-me impedido de continuar a deixar aqui as recordações deixadas pelo almoço do grupo “Eu amo a cidade do Huambo, ex-Nova Lisboa”. Vou tentar continuar. De entre as várias pessoas que ali se encontravam, chamou-me a atenção, pela sua respeitável presença, uma Senhora Africana vestindo um lindo traje angolano. Ao ser-me apresentada e tomando conhecimento que tinha sido locutora de umbundo do programa "Cruzeiro do Sul", perguntei-lhe se não tinha sido ela que tinha gravado uma fita para a despedida diária da Finol e imediatamente me confirmou que sim. Que satisfação tão grande sentimos quando, passados dezenas de anos, encontramos alguém que participou e ajudou a concretizar ideias nossas. Esta fita era uma gravação que, diariamente pelas 24 horas, tocava a valsa da meia-noite e agradecia a presença dos visitantes desejando o seu regresso de novo. Este agradecimento era feito em português, francês, inglês, italiano e umbundo, terminado o qual o certame encerrava as suas portas ao som do “Silêncio”. A Flora Sola gravou aquela saudação em umbundo numa fita que ainda conservo e que foi das poucas coisas que pude trazer de Angola. A situação em Nova Lisboa degradava-se dia a dia e houve um em que a polícia foi desarmada pelo que deixou de existir. Mesmo assim, ainda teimei em manter o certame aberto, mas depressa verifiquei que tal não era possível pois não havia segurança para ninguém e alguns membros de um dos movimentos de libertação estavam tomando atitudes verdadeiramente intoleráveis. Tentando manter a calma, decidi que a feira fecharia à hora do costume despedindo-se com a sua habitual saudação, encerrando depois as suas portas para não voltar a abrir. Ao deixar o recinto guardei a bobine da fita de gravação no meu bolso e daí a razão desta se ter salvado. Apesar da difícil situação que já se vivia em Angola em 1975, persisti na realização da Finol e, apesar dos tempos difíceis que se atravessavam, a feira foi inaugurada na data prevista com um elevado número de presenças. Isso só foi possível graças ao apoio que tive de todos os expositores que, tal como eu, quiseram deixar uma mensagem de esperança de que seria possível continuar a trabalhar em prol de uma Angola próspera e economicamente forte. Utopicamente pensávamos que seria possível ultrapassar os maus momentos que se estavam passando e continuar a trabalhar para o progresso daquele maravilhoso país que estava a nascer. Daí a Finol/75, único certame que se realizou em Angola naquele ano, ter aberto as suas portas, no dia que estava marcada a sua inauguração, com um número muito significativo de expositores. Foi inaugurada mas já não foi possível mante-la até à data para que estava marcada o seu encerramento. No dia a seguir ao seu fecho forçado, Nova Lisboa foi invadida por centenas de refugiados que chegavam de todos os lados praticamente sem outra coisa que não fosse a sua vida. Como a maioria não tinha onde ficar, o recinto da feira passou a ser o seu refúgio e onde até ali tinha estado uma exposição símbolo do progresso que se desejava para Angola havia agora tristeza e lágrimas de pessoas que tinham assistido à derrocada de todos os seus sonhos e aguardavam, numa situação terrível, o embarque que as levasse para longe daquilo tudo. Enquanto conversava com a Flora veio-me à memória toda aquela odisseia tão triste que vivemos. Conversei um bom bocado com a Flora que me relatou ter ficado em Nova Lisboa e ali ter aguentado toda uma guerra terrível que massacrou aquela cidade mártir. A Flora, com uma coragem digna de admiração, ali se manteve na sua terra só agora vindo a Portugal para conhecer uma sua netita agora nascida. Falámos de Angola e das riquezas daquela terra que apenas tem servido para o enriquecimento de uns poucos que um dia se apelaram de defensores do povo angolano enquanto este continua numa miséria enorme. Na figura da Flora Sola vi a figura de todo um povo sofredor que, apesar disso, mantém a sua altivez e, ao mesmo tempo, uma lhaneza de carácter que a todos cativa.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A D. MARIA ISABEL E O ALEXANDRE CARATÃO

Este apanhado fotográfico revela bem toda a emoção que senti em determinada altura do nosso Encontro. A D. Maria Isabel e o Alexandre Caratão são um casal por quem tenho grande estima e com o qual nunca mais contactei desde que tivemos de abalar. Durante os anos que vivi em Angola tive sempre o maior apoio do Alexandre Caratão na divulgação das minhas iniciativas. A ele se ficou a dever muito do êxito das mesmas. Com a D. Maria Isabel colaborei nas suas peças de teatro, participando praticamente em todas. Comecei com uma pequena rábula em que tinha de cantar uma quadra do “Passarinho da Ribeira”. O papel tinha alguma dificuldade para mim pois sempre cantei muito mal. Como a personagem que tinha de representar era um alcoólico, aproveitei este facto para cantar o “Passarinho” com uma voz avinhada, voz que mantive em toda a interpretação e esta acabou por sair razoavelmente bem, muito melhor do que eu esperava. A partir desta, entrei em todas as peças sempre com papeis de relevo que gostei bastante de interpretar. Tinha-as todas gravadas mas a bobine em que se encontravam ficou em Nova Lisboa, assim como todas as minhas coisas: as que ali adquiri e tudo o que tinha levado de Portugal. Todas as recordações de uma vida ali ficaram à espera de um embarque que nunca se efectuou. Ali ficava também uma antiga e linda terrina que o Casal Caratão me ofereceu como recordação da colaboração que lhes havia dado no seu teatro. Apenas uma coisa salvei e que era o que de mais valioso possuía: a Mulher e os Filhos. Esta suprema ventura compensava tudo o resto. Da minha grande biblioteca que, entre outros, continha uma valiosa temática de teatro incluindo toda a obra dos meus Amigos Bernardo Santareno e Luís Francisco Rebelo por eles autografada, consegui salvar dois livros de bolso: “Morte dum caixeiro viajante” e “A raposa e as uvas”. Havia-os emprestado à D. Maria Isabel, para futuras apresentações no seu teatro, que os devolveu da última fez que estivemos juntos, quando todos os outros livros já estavam encaixotados. Como eu gostaria muito de interpretar o “Willy Loman”, trágica personagem criada por Arthur Miller na “Morte dum caixeiro viajante”, a D. Maria Isabel, juntamente com o marido, estudavam a forma de resolver as dificuldades que a transmissão pela rádio originava a fim de a levar para o ar. A guerra civil, que alastrava por Angola, também chegou a Nova Lisboa e todos os projectos tiveram de ser abandonados pois não restava outra solução para todos nós que não fosse abandonar aquela terra que tanto amávamos e tanto fizemos para a engrandecer. E toda esta história veio a propósito para tentar explicar toda a emoção que senti e que a fotografia tão bem demonstra. Com a mulher e os filhos tivemos de regressar a Portugal e disseram-me que o Alexandre Caratão e a Família teriam ido para a África do Sul. Durante todos estes anos, apesar de ter feito algumas tentativas, nunca mais tivemos qualquer contacto. Foi agora, neste Encontro em Cacilhas, que seu filho José Caratão teve a gentileza de me pôr em contacto telefónico com os Pais. Foi um momento muito feliz mas muito emotivo. A D. Maria Isabel quando percebeu com quem estava a falar, também muito emocionada, chorou e a conversa foi interrompida pelo Alexandre Caratão para ver quem é que estava a fazer chorar a Esposa. Momento muito, muito belo mas com uma carga muito forte de emoção. Ao fim de 37 anos, contactei novamente e finalmente com este casal que muito admiro e estimo. JOSÉ CARATÃO OBRIGADO POR ME TER OFERECIDO ESTE MOMENTO MARAVILHOSO.

domingo, 29 de julho de 2012

O LUÍS GANHO

Luís Ganho foi o criador da página “Eu amo a cidade do Huambo, ex-Nova Lisboa” e é o grande entusiasta e organizador dos encontros dos membros desta página promovendo, assim, o convívio entre todos, cimentando amizades e mantendo vivas as recordações de momentos passados. Foi dele que recebi o outro convite para este encontro e, durante o desenrolar do mesmo e apesar do pouco tempo de que dispunha envolvido nos vários problemas da organização, cumulou-me de atenções que muito me sensibilizaram. Velho amigo da família, apesar da grande diferença de idades, tivemos oportunidade de relembrar muita coisa do passado. O Ganho foi colega da minha filha no liceu e visita assídua da nossa casa tal, como o Corte Real e o Herberto. Assistindo a um ensaio da peça que pensavam levar à cena, na festa anual do liceu, verifiquei que, apesar do talento que mostravam, movimentavam-se no palco à vontade de cada um e sem qualquer espécie de marcação originando que se tapasse com frequência. Resolvi encenar “O Avarento” de Molière, peça que eles estavam a ensaiar e, depois de ter pedido à Embaixada de França um original daquela obra, procedi à sua marcação e passei a dirigir os ensaios. Toda a equipa se entregou com entusiasmo ao trabalho e penso que se conseguiu um nível muito aceitável pois tratando-se de principiantes eram muito fáceis de moldar. Com a ajuda de minha mulher que idealizou o guarda-roupa e fez a caracterização das personagens, a peça foi à cena no Teatro Ruacaná, em Nova Lisboa, e correu tão bem que, apoiados pela Alliance Française, deslocámo-nos a Luanda e “O Avarento” subiu à cena no Teatro Avenida. Também a televisão, que ainda em regime experimental dava os primeiros passos, nos convidou para ir aos seus estúdios gravar a peça e, assim, um grupo de estudantes do Liceu Norton de Matos de Nova Lisboa pode gabar-se de ter sido protagonista da primeira peça de teatro que a televisão de Angola transmitiu, embora ainda numa área muito reduzida pois, na altura, estava limitada a Luanda. Durante o almoço, tivemos oportunidade de recordar todas as peripécias desta acção cultural bem como a criação do “Proscénium”, iniciativa que nasceu motivada por aquela experiência. Em Portugal, eu tinha criado o Proscénium – Grupo de Teatro do Sindicato dos Empregados de Escritório que teve algum êxito e uma longa vida. Motivado pelo interesse que aquele grupo de jovens tinha demonstrado, pensei ser útil aproveitá-los para a criação de um grupo de teatro que desenvolvesse o gosto por esta arte tão bela. E, assim, depois de falar com aqueles jovens e com mais algumas pessoas interessadas pela cultura, nasceu um novo “Proscénium”, este em Angola, e que pretendíamos tivesse tanta actividade como aquele que criara em Portugal. Depois de formada uma comissão organizadora, apresentámos, numa conferência de imprensa realizada no dia 24 de Abril de 1974, o nascimento desta iniciativa e os seus objectivos, o que originou um episódio que não deixa de ter alguma piada e que não me canso de relatar. No dia 25 de manhã, mal cheguei ao meu local de trabalho, recebo um telefonema da Pide dizendo-me que precisavam falar comigo e se eu os podia receber. Não me posso queixar pois não me foram buscar e ainda tiveram a “delicadeza” de telefonar a pedir para os receber. Como lhes respondi que os receberia à hora que entendessem, imediatamente me apareceu um agente que, muito delicadamente, me informou que o sr. inspector se interessava muito por tudo que dizia respeito à cultura e que desejava apoiar a iniciativa pelo que gostava de saber que peças iríamos levar à cena. Respondi-lhe que podiam estar descansados pois todas as peças seriam visadas pela comissão de censura dado que, como ele certamente sabia, não era possível levar à cena outras. Para “desopilar” deste sempre desagradável encontro, mesmo que decorressem num ambiente aparentemente cordial como este, resolvi ir beber um café e, então na “Kambu”, tomei conhecimento que em Portugal se tinha dado um golpe de estado enquanto, em Nova Lisboa, uma polícia “tão bem informada” dedicava o seu tempo a saber o que um “perigoso” agrupamento teatral pretendia levar à cena. O Proscénium começou a trabalhar e, dado a sede de libertação que existia depois de tantos anos de opressão, começámos a ensaiar “Liberdade, Liberdade” pelo que escrevi ao seu autor, Luís Francisco Rebelo” pedindo autorização para levar a peça à cena. Com aquela amizade que sempre me dispensou, de imediato me respondeu autorizando a exibição da peça e quanto aos direitos não levava nada se a peça fosse representada sem entradas pagas, mas se fossem pagas então exigiria de direitos uma importância "elevadíssima": um escudo. E, com aquele grupo de jovens, começámos os ensaios. Como a peça tinha alguns trechos musicados e como não consegui obter do José Mário Branco as suas partituras, recorremos à declamação em vez do canto, alteração que até estava a satisfazer bastante bem. A situação já bastante degradada em toda a Angola chegou também a Nova Lisboa e a peça não chegou a ser levada à cena o que foi muito bom pois, pelo caminho que as coisas tomaram, o menos que nos teria sucedido era termos sido presos. Tudo isto me veio à memória durante o nosso almoço. Daquele grupo de jovens, continuei a conviver bastante com o Corte Real que enveredou pelo teatro trabalhando no Cendrev, em Évora, e como costumava assistir às suas estreias falávamos com frequência. Com o Herberto, embora há muito não veja, também falei várias vezes pois tem o Pai em Estremoz e a mulher fez o doutoramento na Universidade de Évora. Com o Ganho é que, com excepção de alguns contactos o Facebook, só agora, passados 37 anos, nos voltámos a ver, mas a amizade e as recordações perduraram ao longo do tempo. Obrigado Luís Ganho pelas atenções que teve para comigo e pela amizade que me dispensa e que é recíproca. ESPERO QUE NOS POSSAMOS ENCONTRAR MAIS VEZES E COM MAIS FREQUÊNCIA.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A NELA

Um dos motivos que me levou ao 3º. Encontro do Grupo “Eu Amo a Cidade do Huambo, ex-Nova Lisboa” foi o simpático convite que a Ferreira Nela me enviou. Através dos tempos, eu e a Nela, temos tido vários contactos que nos tem aproximado e cimentado uma amizade muito especial e muito forte. Conhecemo-nos na FINOL, Feira Internacional de Nova Lisboa, onde eu fui comissário e a Nela representava a Kaminomoto da Casa York, com um dos mais bonitos stands daquele certame representando um pagode chinês. Conversávamos sempre que eu, em visita aos vários stands, parava naquele para um pouco de convívio. Numa eleição para “Miss Finol” escolhida entre a mais simpática de todas as recepcionista, ganho por minha filha, a Lena foi a sua mais séria adversária. Obrigados a deixar aquela terra que tanto adorávamos perderam-se todos os contactos entre as pessoas. Passados muitos anos li, num fórum sobre automobilismo, o comentário da Nela que dizia ainda possuir o livro de 1972 das “6 Horas Internacionais de Nova Lisboa”. Não fazia a mais pequena ideia de que era a mesma pessoa que eu tinha conhecido na Finol e também não é meu costume pedir nada a ninguém e mais a mais a alguém que nem sequer conhecia a não ser do fórum. Mas tinha um desgosto tão grande de não ter uma recordação daquela prova, com tanto entusiasmo organizada, que tive a ousadia de lhe enviar uma mensagem a perguntar se não me emprestava o livro para o fotocopiar. De imediato, a Nela respondeu dizendo que ela própria o iria fotocopiar e pedindo a minha morada para o enviar o que sucedeu passado algum tempo. Este gesto sensibilizou-me muito pois poucas pessoas teriam um procedimento destes, mas a Nela é assim, considerando que tem uma missão terrena de ajudar os amigos em tudo que pode. Os amigos e os desconhecidos, digo eu, porque naquela altura a Nela nem me conhecia. Mantivemos depois contacto, através do fórum, e soube da filha estar a frequentar a Universidade de Évora e dos problemas que estava a ter. Tentei aconselhá-la e de quem contactar para tentar resolver este problema. Uma vez que veio a Évora por causa da filha era para nos termos encontrado mas, já não sei porque motivo, eu não pude aparecer. E porque eu, ou porque ambos deixámos aquele fórum uma nova interrupção existiu na nossa ligação. Mais tarde voltámo-nos a encontrar no Facebook até que neste Encontro, finalmente, nos encontrámos e algo de muito forte e especial ali nasceu. Uma amizade muito forte que só o mistério de África é capaz de fazer nascer entre as pessoas. Da Nela e do Marido recebi, naquela altura, provas de uma consideração muito grande que jamais poderei esquecer. Obrigado Nela por, nesta última etapa da minha vida, me teres dispensado tanta e tanta amizade. Guardo-te no meu coração com uma gratidão muito grande. Só quem viveu em África poderá compreender o sortilégio que liga as pessoas umas às outras com laços tão forte.

3º. ENCONTRO DO GRUPO “EU AMO A CIDADE DO HUAMBO, EX-NOVA LISBOA”

No passado dia 14 estive no 3º. Encontro de “Eu amo a cidade do Huambo, ex-Nova Lisboa” que reuniu um grupo extraordinário de pessoas que guardam no coração todas as amizades e recordações dos tempos que viveram naquela linda cidade. Estive para ir ao primeiro encontro mas fui impedido, à última da hora, por motivos de saúde e do segundo não tive conhecimento. Ainda estive hesitante em ir a este pois tinha estado há pouco noutro que se realizou no Bombarral, mas dois simpáticos convites de Ferreira Nela e Luís Ganho eliminaram qualquer hesitação. E em boa hora o fiz! Que dia maravilhoso com o prazer de conviver com pessoas que me rodearam de atenções e carinho que tanto me sensibilizaram e de rever o tempo que vivi naquela terra à qual fiquei ligado para sempre. Houve momentos em que parecia ter voltado 37 anos a trás e sentia-me de novo em Nova Lisboa onde o convívio era mais quente e as amizades mais sólidas. Ali recordei a Finol, as “6 Horas”, o Rádio Clube do Huambo e, por momentos, pareceu-me estar de novo no “Etc”, mas sobretudo senti toda a atracção que o sortilégio daquela terra deixou em nós e do qual não nos conseguimos libertar por mais que queiramos. Recebi palavras de simpatia de todos que muito me tocaram, mas sensibilizaram-me muito em particular as manifestações que recebi de jovens que, na altura em que tivemos de regressar, não passavam de crianças. Já noutras alturas e noutros lugares tenho sentido a admiração desses jovens por algumas das minha iniciativas, principalmente pelas “6 Horas” que guardam, muito vivas, nas suas memórias. Nunca pensei que aquilo que fiz, e se deve não a mim mas às extraordinárias equipas que tive a honra de coordenar, deixasse tão profundas recordações nos mais novos e verifica-lo é suficiente gratificante para o tempo que possa ter dedicado a essas iniciativas. O dia que vivi, naquele sábado em Cacilhas, provocou em mim emoções tão fortes que terei de deixar no meu blogue pequenos apontamentos dos momentos e das pessoas que tanto me sensibilizaram. Para todos um obrigado muito grande e todos ficaram ainda muito mais perto de mim na minha memória e no meu coração. Como eu, todos tiveram o privilégio de viver no Paraíso do qual fomos expulsos, tal como Adão e Eva. Mas nós, o único pecado que cometemos foi o de ser felizes e trabalhar em prole de uma terra que amávamos e que pretendíamos cada vez mais próspera.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

SAUDADE



Foi há três anos que deixaste a minha companhia e cada dia que passa parece que a saudade é cada vez maior.

Dia após dia, recordo todos os momentos de felicidade que vivemos e sofro por já não os poder viver.

Meu amor, que saudade tão grande.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

RECORDANDO UM MOMENTO MARAVILHOSO



Embora o passado esteja sempre presente, existem momentos que recordamos com uma saudade tão grande que até faz doer, tal a vontade que sentimos de a ele regressar.
Foi o que me sucedeu quando ouvia esta bela ária na excelente interpretação deste grande cantor.

Senti-me transportado à minha juventude em que existia um regime de opressão que tentava cercear as nossas ideias mas que, em contrapartida, existia uma sociedade bastante culta.

Os sonhos de Abril em que pensávamos que tudo iria ser muito melhor a partir dali, caíram por terra esmagados pela ambição de uns e a incompetência política de outros.
Hoje vivemos rodeados de dificuldades económicas com uma juventude que, concluídos os seus estudos, vive sem esperanças de futuro numa sociedade em que o desemprego aumenta dia a dia.

Mas estou a desviar-me do assunto desta conversa pois o que estava a tentar transmitir era a recordação que esta ária despertou em mim.

Na minha juventude, Lisboa tinha uma temporada de ópera, com alguns dos melhores cantores da época, que se realizava no Teatro de São Carlos. Porém, como essa se destinava a uma classe privilegiada e não acessível à maioria da população,todos os espectáculos tinham lugar, igualmente e com os mesmos cantores, no Coliseu dos Recreios.

Esta casa de espectáculos, frequentada pelos verdadeiros apreciadores sempre dispostos a aplaudir o que merecia mas verdadeiramente intolerantes à mais pequena falha assiduamente premiada com uma verdadeira pateada, era um verdadeiro santuário da música.

Tão exigente era e tal a fama que corria no mundo lírico que o tenor Beniamino Gigli quis que sua filha se estreasse no Coliseu porque dizia que se ela passasse ali passaria em qualquer sala do mundo.

A cantora Maria Callas aplaudida em delírio no São Carlos, actuou no Coliseu num ambiente extremamente frio muito mais amante de Renata Tebaldi do que da Callas.

Pois foi nesta sala que, numa noite inesquecível, se deu um momento que quem a ele assistiu jamais poderá esquecer.

Gino Bechi, um cantor bastante apreciado pela sala do Coliseu, interpretava o Barbeiro de Sevilha e, quando cantava a ária do Fígaro, cometeu uma pequena "fífia" o que originou a imediata reacção da plateia com a habitual pateada.

Bechi fez sinal ao maestro e voltou ao princípio cantando de novo toda a ária sendo, no final, bastante aplaudido pelos mesmos que o haiam pateado.

Perante este entusiasmo, Bechi bisou a ária sendo delirantemente aplaudido e, então, deu-se uma coisa a que raramente se deve ter podido assistir. GINO BECHI TRISOU A ÁRIA.

Que noite maravilhosa aquela que jamais quem a ela assistiu poderá esquecer