segunda-feira, 30 de julho de 2012

A D. MARIA ISABEL E O ALEXANDRE CARATÃO

Este apanhado fotográfico revela bem toda a emoção que senti em determinada altura do nosso Encontro. A D. Maria Isabel e o Alexandre Caratão são um casal por quem tenho grande estima e com o qual nunca mais contactei desde que tivemos de abalar. Durante os anos que vivi em Angola tive sempre o maior apoio do Alexandre Caratão na divulgação das minhas iniciativas. A ele se ficou a dever muito do êxito das mesmas. Com a D. Maria Isabel colaborei nas suas peças de teatro, participando praticamente em todas. Comecei com uma pequena rábula em que tinha de cantar uma quadra do “Passarinho da Ribeira”. O papel tinha alguma dificuldade para mim pois sempre cantei muito mal. Como a personagem que tinha de representar era um alcoólico, aproveitei este facto para cantar o “Passarinho” com uma voz avinhada, voz que mantive em toda a interpretação e esta acabou por sair razoavelmente bem, muito melhor do que eu esperava. A partir desta, entrei em todas as peças sempre com papeis de relevo que gostei bastante de interpretar. Tinha-as todas gravadas mas a bobine em que se encontravam ficou em Nova Lisboa, assim como todas as minhas coisas: as que ali adquiri e tudo o que tinha levado de Portugal. Todas as recordações de uma vida ali ficaram à espera de um embarque que nunca se efectuou. Ali ficava também uma antiga e linda terrina que o Casal Caratão me ofereceu como recordação da colaboração que lhes havia dado no seu teatro. Apenas uma coisa salvei e que era o que de mais valioso possuía: a Mulher e os Filhos. Esta suprema ventura compensava tudo o resto. Da minha grande biblioteca que, entre outros, continha uma valiosa temática de teatro incluindo toda a obra dos meus Amigos Bernardo Santareno e Luís Francisco Rebelo por eles autografada, consegui salvar dois livros de bolso: “Morte dum caixeiro viajante” e “A raposa e as uvas”. Havia-os emprestado à D. Maria Isabel, para futuras apresentações no seu teatro, que os devolveu da última fez que estivemos juntos, quando todos os outros livros já estavam encaixotados. Como eu gostaria muito de interpretar o “Willy Loman”, trágica personagem criada por Arthur Miller na “Morte dum caixeiro viajante”, a D. Maria Isabel, juntamente com o marido, estudavam a forma de resolver as dificuldades que a transmissão pela rádio originava a fim de a levar para o ar. A guerra civil, que alastrava por Angola, também chegou a Nova Lisboa e todos os projectos tiveram de ser abandonados pois não restava outra solução para todos nós que não fosse abandonar aquela terra que tanto amávamos e tanto fizemos para a engrandecer. E toda esta história veio a propósito para tentar explicar toda a emoção que senti e que a fotografia tão bem demonstra. Com a mulher e os filhos tivemos de regressar a Portugal e disseram-me que o Alexandre Caratão e a Família teriam ido para a África do Sul. Durante todos estes anos, apesar de ter feito algumas tentativas, nunca mais tivemos qualquer contacto. Foi agora, neste Encontro em Cacilhas, que seu filho José Caratão teve a gentileza de me pôr em contacto telefónico com os Pais. Foi um momento muito feliz mas muito emotivo. A D. Maria Isabel quando percebeu com quem estava a falar, também muito emocionada, chorou e a conversa foi interrompida pelo Alexandre Caratão para ver quem é que estava a fazer chorar a Esposa. Momento muito, muito belo mas com uma carga muito forte de emoção. Ao fim de 37 anos, contactei novamente e finalmente com este casal que muito admiro e estimo. JOSÉ CARATÃO OBRIGADO POR ME TER OFERECIDO ESTE MOMENTO MARAVILHOSO.

1 comentário:

  1. Caro Armando Lacerda
    Eu é que agradeço poder proporcionar aos meus pais este agradável encontro, pese embora tenha sido por telefone.
    Havemos de conseguir um encontro ao vivo.
    Forte e grande abraço deste seu amigo e admirador,
    José Caratão

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