quinta-feira, 14 de agosto de 2014

RECORDANDO CORTE REAL PEREIRA

Pequena "estória" de alguém que devia servir de exemplo a todos os que se dedicam ao automobilismo desportivo. Francisco Corte Real Pereira foi um piloto que, depois de ter participado e destacado em algumas corridas em Portugal, se radicou em Angola, sendo a sua presença certa em todas as provas que ali se realizavam. Das provas em Portugal, lembro 1953 em que venceu a I Taça Cidade do Porto, tripulando um ALBA, carro de construção nacional. Em 1954 voltou a alinhar na II Taça Cidade do Porto, novamente em ALBA quando se esperava um grande despique entre os carros daquela marca e os FAP, igualmente de origem nacional. Naquele ano alinhou também no I Grande Prémio do Porto, em Jaguar, tendo desistido em ambas as provas. Também em Vila Real, alinhou em 1949 tendo ganho o I Grupo até 750 cc. Em 1951 e 1952 ficou em sexto nos dois anos e, em 1958, alinhou, de novo em ALBA, na Taça Circuito Internacional de Vila Real, tendo abandonado, e na Taça Cidade de Vila Real, em BMW 507, classificando-se em 3º. Em Angola, o seu amor ao desporto automóvel, o seu espírito de camaradagem e a sua afabilidade de trato granjearam-lhe um amigo em todos quantos com ele conviveram. A sua presença em qualquer prova era sempre desejada e motivo de satisfação para todos os organizadores e concorrentes. O Corte Real era um exemplo do verdadeiro desportista e um apoio para qualquer concorrente, principalmente, para os mais novos. Antes de afinar o seu carro, corria todas as “boxes” prestando a ajuda necessária a quem dela precisasse e só depois se dedicava à sua viatura. Em 1970, Corte Real Pereira esteve, pela última vez, nas “6 Horas de Nova Lisboa” e recordo, como se fosse hoje, a última mudança de pilotos no seu carro. Encontrava-se já muito debilitado e preocupou-me como entrou e pegou no volante para arrancar para a sua última participação, porque entendi que não se encontrava em condições físicas ideais para conduzir. E tão preocupado estava que me encaminhei para o director da prova a fim do aconselhar a que lhe pusesse a bandeira negra obrigando-o a abandonar a prova. Mas, a meio do trajecto, hesitei e desisti pois não tive coragem de ser o autor do abandono de Corte Real Pereira. Obrigá-lo a abandonar era o mesmo que matá-lo com o desgosto que ia provocar a quem tanto amava as corridas e os automóveis. Corte Real Pereira pôde, assim, concluir as suas últimas “6 Horas de Nova Lisboa”. Oito dias depois, viria a falecer, vítima de acidente, quando tripulava o seu Lótus nas “3 Horas da Huila”. Faleceu a fazer aquilo que tanto amava. No ano seguinte, em sua homenagem e para que não fosse esquecido tão grande desportista e apoiante de todos os que se iniciavam nesta modalidade, já como director da prova instituí a Taça Corte Real Pereira, troféu a ser disputado na corrida de iniciados. Ainda hoje perdura a saudade por um companheiro que não voltaremos a ter entre nós mas que, pela sua maneira de estar, devia ser um exemplo para todos quantos se dedicam a este nobre desporto.

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