sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

CONTO DE NATAL

Meu irmão Antoninho morreu num dia de Natal.
Não o cheguei a conhecer porque quando morreu eu ainda não era vivo e vim ao mundo exactamente para preencher o vazio que ele deixara a meus Pais.
Daí ter crescido sem que, na quadra do Natal, existisse qualquer espécie de festejos.
O Natal só se começou a festejar após o meu casamento e com a chegada dos meus filhos.
A partir daí, esta quadra começou a ser festejada com grande alegria e felicidade.
Anualmente, fazia-se uma árvore de natal que crescia sempre de ano para ano, pois todos os anos se juntavam, aos antigos, novos ornamentos.
Com a nossa ida para Angola, a árvore continuou a crescer.
Ia com os meus filhos ao viveiro florestal da Sacaala e ali escolhíamos o pinheiro que queríamos e que era abatido na altura. Chegou a ser tão grande que tocava o tecto, perante a alegria do meu filho mais novo e as censuras de minha mulher que considerava aquilo um exagero.
Com o 25 de Abril, regressámos a Portugal sem nada e a árvore de natal voltou à primeira forma, pequenina e pobrezinha. Mas lá voltou a crescer de ano para ano embora sem nunca mais ter atingido a apogeu de outros tempos.
Entretanto, com o casamento dos filhos também o clã Lacerda deixou de estar junto durante toda a quadra pois eles começaram a ter que o dividir com as famílias das mulheres. Apenas a filha continuou a festejá-lo inteiramente com os pais.
Como o disse a princípio, era uma quadra de alegria e felicidade. Mas como a felicidade não pode durar sempre também esta acabou com a morte da minha mulher.
E o ano passado não tive coragem nem vontade para estar com os filhos e fugi para longe, com grande desgosto e censura do meu filho mais novo que custou a compreender a minha decisão.
Com a minha filha e o meu genro fomos a Cuba para estarmos longe de tudo e de todas lembranças de um passado que não voltaria mais.
E conseguimos estar distantes de uma quadra que só nos causava tristeza. Cuba não festejava o Natal, embora se visse um grande presépio numa das ruas principais de Havana e o mesmo fosse festejado nas igrejas.
A véspera de Natal foi transformada no dia cubano e como tal foi festejado com esmero a que os empregados do hotel se entregaram com grande entusiasmo.
Logo de manhã, quando abri a janela do meu quarto deparei com um movimento de trabalho que montava um arraial nos jardins do hotel onde foi servido um almoço de churrasco com os empregados vestidos com trajes regionais e um grupo coral que abrilhantou a festa com músicas do folclore cubano.
À noite, o jantar foi servido com os empregados vestidos a rigor que nos ofereciam “mojitos” à entrada para a sala de refeições e onde deparámos com um excelente jantar onde se viam cascatas de marisco.
Este ano, entendemos que não podíamos nem devíamos estar a fugir abandonando os filhos e netos. E ficámos para estarmos juntos na consoada.
Mas custa muito. Sinto a falta de alguém que me acompanhou durante anos e anos e que eu com a felicidade que sentia pensava que nunca teria fim.

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