sábado, 24 de setembro de 2016

LIBERDADE, LIBERDADE

Hoje, na praia, tive a reler “Liberdade, Liberdade” e a recordar quando, em Nova Lisboa, comecei os ensaios para levar este texto à cena. Realizei vários ensaios, contactei o seu autor para lhe dar conhecimento da minha intenção, mas, devido à degradação que se deu naquela cidade, não chegou a ser estreada. Apesar de ter gostado de a ver em cena, foi bom que tal não se tivesse verificado pois os jovens, que com tanto entusiasmo tinham pensado representá-la, podiam passar um mau bocado com os ocupantes da cidade, o que jamais me perdoaria. Entusiasmado com a euforia que todos estávamos vivendo com a queda do fascismo, foi um irreflectido disparate não ter previsto o que se viria a passar e as consequências que daí adviriam. Felizmente nada sucedeu e, assim, posso recordar a alegria e o entusiasmo do Ganho, do Corte Real e da minha filha com que se entregavam aos ensaios pondo de pé este belo texto. Recordo, igualmente, Luís Francisco Rebelo e a amizade que sempre demonstrou quando em resposta à carta que lhe havia enviado me respondeu desejando os maiores êxitos para a peça e que, quanto a direitos de autor não levava nada se as entradas fossem gratuitas, mas, se fossem a pagar, levava os pesados custos de um escudo. É com muita saudade que recordo todos os momentos e todos os amigos que conquistei ao longo de uma vida em que tentei ser coerente com os meus ideais e útil à sociedade que pretendi fosse justa e humana. Foi um esforço inglório e, certamente, acompanhado de muitos erros mas que permite que esteja bem com a minha consciência, só lamentando não ter sabido fazer mais e melhor. E porque falei no Ganho recordei-me do que, aqui há tempos num almoço de convívio, ao apresentar-me a uma pessoa dizia que eu “no tempo em que não existia liberdade, tinha ensinado aos meus filhos e aos amigos deles o que era a liberdade”. Isto foi muito gratificante para mim e fez-me acreditar que tinha valido a pena viver a vida que vivi.

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